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Dupla de usineiros lidera disputa no Estado pela 1ª vez

Pela primeira vez na política de Alagoas dois usineiros disputam a eleição para o governo do Estado. Em anos anteriores, o setor sucroalcooleiro unia-se para apoiar – e financiar- nome que o representasse, sem que os donos das usinas entrassem na corrida eleitoral.

A produção de açúcar e álcool é a principal atividade econômica privada de Alagoas e o setor que mais gera emprego, exceto a máquina pública.

Segundo pesquisas eleitorais, o deputado federal João Lyra (PTB), pai de Thereza Collor Halbreich e um dos maiores empresários do Estado, cujo grupo faturou R$ 650 milhões em 2005, lidera a disputa para o governo alagoano.

Em segundo lugar nas pesquisas vem o senador Teotonio Vilela Filho (PSDB), sócio das Usina Reunidas Seresta, que pertence à sua família.

“A oligarquia rural usava [nas eleições anteriores] fornecedores de cana-de-açúcar, de peças automotivas, intelectuais como representantes. Eram de uma classe média que vivia das benesses do setor e era da total confiança dos usineiros”, afirma professor da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) Eduardo Magalhães, doutor em ciência política.

De acordo com ele, o alto investimento demandado nas campanhas fez com que os empresários passassem eles mesmos a disputar as eleições.

Para o professor Alberto Saldanha, do Instituto de Ciências Sociais da UFAL, o fato de haver dois usineiros na disputa indica que o projeto de esquerda, eleito em 1998 com Ronaldo Lessa (PDT, ex-PSB) no governo e Heloísa Helena (PSOL, ex-PT) no Senado, perdeu força e não viabilizou um sucessor.

O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Alagoas, Pedro Robério, vislumbra maior possibilidade de negociação para o setor com um usineiro no governo.

O sindicato, que representa 70% da produção sucroalcooleira do Estado, reivindica a redução da alíquota de 26% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para 12%.

Com a alíquota atual, segundo Robério, as usinas do Estado perdem competitividade no mercado interno.

Em 1988, o então governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello (atualmente candidato ao Senado pelo PRTB) -um exemplo de empresário eleito com o apoio do setor sucroalcooleiro-, fez um acordo com os produtores de açúcar e álcool, ressarcindo o ICMS recolhido sobre a cana própria (plantada em sua propriedade, e não comprada de terceiros). Na época, a arrecadação do imposto caiu à metade.

Até 2003, o setor não recolheu ICMS. A dívida com o Estado atingiu R$ 450 milhões e era questionada na Justiça.

Em 2004, um acordo parcelou o pagamento em 180 meses e os usineiros voltaram a recolher o imposto.