Os custos de produção de açúcar mais elevados no maior produtor mundial, o Brasil, deverão promover uma recuperação dos preços da commodity em até 18 meses. Mas, se o dólar se valorizar ainda mais frente ao real, chegando a R$ 2, poderia limitar essa recuperação da cotação, na medida em que as usinas brasileiras teriam um ganho na exportação pelo melhor preço na moeda brasileira. A avaliação é da Cosan, maior empresa sucroalcooleira do País.
“Temos duas formas de chegar lá (de elevar os ganhos). Ou através de uma recuperação de preços ou então através do que está acontecendo, que é o fortalecimento dólar. Isso dá um impacto bastante importante do ponto de vista operacional para as empresas brasileiras”, disse nesta sexta-feira Paulo Diniz, diretor financeiro e de relações com investidores da Cosan.
Segundo ele, a empresa acredita em um preço de longo prazo acima de US$ 0,14 por libra-peso na bolsa de Nova York.
“O que pode não levar a isso, não é nem razão fundamentalista. O que pode não levar a isso é uma forte apreciação do dólar em relação ao real”, destacou, durante conversa para comentar os resultados financeiros da empresa, divulgados no final da noite de quinta-feira.
Além de um começo de safra difícil por conta do clima, a apreciação do real no início da temporada pressionou os resultados da empresa, que registrou prejuízo.
Difícil previsão
“Se o dólar bater R$ 2, então vamos ver o preço do açúcar cedendo, porque o ganho dos produtores viria do melhor preço em reais pela melhor conversão do dólar nas exportações”.
Segundo ele, para os próximos 12 meses é difícil prever o preço do açúcar, pois ele vem tendo altas e baixas, de acordo com as movimentações do mercado financeiro.
“Mas o importante, e aí a gente fala acima de 12 meses, em 18 meses, é que realmente os custos atuais de produção do principal produtor mundial mudaram de patamar e esses preços têm que mudar de patamar. Aí a tendência de recuperação, porque não podemos pensar em um player como o Brasil ficando fora do mercado”, acrescentou.
Os custos ficaram mais pesados para o setor pelo impacto do menor teor de sacarose na cana no início desta safra. A apreciação do real e também os gastos maiores com mão-de-obra sobrecarregaram as despesas no período, afirmou Diniz.
A menor oferta de açúcar no mercado, com a Índia produzindo menos do que na safra passada e o Brasil dedicando cada vez mais cana para produção de etanol, também é outro fator altista para a commodity.
Investimento nos EUA
O diretor da Cosan afirmou que a empresa segue com seu plano de expandir operações para o exterior visando ampliar vendas de etanol para o principal mercado de combustíveis do mundo, mas ressaltou que apenas haverá uma definição desses investimentos após a eleição presidencial americana.
“Achamos prudente termos uma idéia melhor sobre como vai ser a política americana com o novo presidente em relação a biocombustíveis, não só para os EUA mas com relação à importação”, destacou.
Segundo ele, se a empresa optasse, por exemplo, em ter uma base no Caribe, correria o risco de os EUA, em algum momento, concederem cotas de importação a países como Brasil.
“Isso inviabilizaria totalmente o investimento. Então, para nós, é necessário um pouco mais de clareza”.