Depois de longo período sem significativas novidades no segmento de sedãs médios, montadoras voltam a apostar nesses produtos para garantir fatia num nicho que é pequeno, porém lucrativo, no mercado nacional. Modelos que custam entre R$ 50 mil e R$ 80 mil são responsáveis por menos de 15% das vendas, mas o retorno de custos é muito superior ao de carros pequenos, que respondem por mais da metade do mercado nacional de veículos.
A Renault inicia este ano a produção do Mégane e a Honda coloca na linha de montagem a oitava geração do Civic. A Ford preferiu entrar na briga importando o Fusion do México. Os novos veículos vão disputar a preferência do consumidor com o novo Vectra, da General Motors – que em dois meses de vendas chegou à liderança do mercado –, com o Toyota Corolla, que cedeu o posto para o Vectra, e outros importados.
Paralelamente, as fabricantes continuarão investindo nos modelos flex, que rodam com álcool, gasolina ou a mistura de ambos, apesar da recente elevação do preço do álcool, preferido dos donos de carros bicombustível em vários Estados por ser a opção mais econômica. Só este mês, três novos produtos chegam ao mercado. A Citroën inicia as vendas do C3 1.4 e a Peugeot do 206 1.4 flexíveis. A GM apresenta, quarta-feira, o Corsa Classic com essa tecnologia.
“Sempre acreditamos que há espaço para esses produtos no mercado brasileiro”, diz o vice-presidente comercial da Renault do Brasil, Christian Pouillaude. “Este ano a concorrência será maior”, completa ele, ao anunciar para março a chegada do Mégane, que terá versões 1.6 flex e 2.0 a gasolina. O segmento de sedãs médios “não é o mais importante do mercado, mas é bastante interessante porque tem clientela mais sofisticada, concentrada nos centros urbanos”, diz.
A Honda começa a produzir em abril o novo Civic, totalmente renovado. A versão brasileira será parecida com a americana, lançada em setembro. No Salão Internacional do Automóvel de Detroit (EUA), o modelo foi eleito o carro do ano por jornalistas especializados.
Kazuo Nozawa, diretor vice-presidente da Honda do Brasil, espera um salto moderado de vendas da marca este ano, não por falta de demanda, mas ainda por limitação de capacidade da fábrica de Sumaré. “Só vamos ter maior disponibilidade de produção no fim do ano ou começo de 2007.”
A fábrica passa por obras e terá a capacidade produtiva ampliada gradativamente até chegar em 100 mil veículos daqui a dois anos. Para este ano, a capacidade deverá ficar em 74,8 mil unidades, mas com jornadas extras de trabalho. Em 2005, a Honda obteve recorde de vendas desde sua instalação no País, em 1997, com 57.039 unidades, um aumento de 12,5% em relação ao ano anterior. Do total vendido, 20,3 mil modelos eram do Civic atual.
“Cada marca vai tentar se posicionar melhor no segmento com novidades pontuais”, afirma José Rinaldo Caporal, diretor da MegaDealer, consultoria especializada no mercado automobilístico.
O vice-presidente da GM, José Carlos Pinheiro Neto, tem dúvidas sobre a divisão do nicho. “Não sei se há condições de tanta gente participar desse bolo”, diz. Mas ele confirma que o segmento é lucrativo. A GM lançou o novo Vectra em outubro e, dois meses depois, o modelo chegou à liderança. Hoje, há fila de espera para o veículo.
O desempenho atraiu a concorrência e a Ford, que não tem veículo dessa categoria no País, providenciou a importação do Fusion, fabricado no México. A data de início das vendas não foi divulgada. Nos EUA, onde foi lançado recentemente, a versão mais barata do modelo custa o equivalente a R$ 80 mil.
Somando todos os segmentos, estão previstos para este ano cerca de 40 lançamentos, entre carros nacionais e importados, que vão do Celta sedã, provavelmente em abril, à Ferrari Superamerica.
RECUPERAÇÃO
Pouillaude aposta que este ano, com a chegada do Mégane, a Renault vai recuperar mercado. A marca francesa, por vários anos a quinta maior montadora brasileira, viu sua participação despencar para 3% em 2005, o que a colocou em oitavo lugar no ranking, atrás das japonesas Toyota (3,75% do mercado) e Honda (3,5%) e da também francesa Peugeot (3,2%).
O executivo da Renault projeta aumento de 20% na participação da marca, para 3,6%, e crescimento ainda mais consistente em 2007, com a chegada do popular Logan, que dividirá a linha de montagem de São José dos Pinhais (PR) com o Mégane. Neste ano, a montadora também vai lançar o Kangoo flex. O furgão é produzido na Argentina, mas terá motor brasileiro.
Pinheiro Neto acredita que a oferta de veículos este ano não será centrada apenas no bicombustível. “O interesse pelo multicombustível, que também aceita gás veicular, deve ir além de taxistas e frotistas”, diz. Para ele, o consumidor comum vai se interessar mais por essa opção. A GM tem o Astra Multipower e a Volkswagen oferece a opção triflex para todos os modelos, exceto o Fox.
A Honda entra na onda flex no segundo semestre, com o Fit e depois com o Civic. A tecnologia também será introduzida no Fiat Dobló, no Fiesta 1.0 e no Volkswagen Golf.