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Diretor do Mapa reclama da insatisfação de representantes do setor sucroenergético

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Crédito: Antonio Araujo

Em entrevista exclusiva ao JornalCana, Cid Caldas, diretor do Departamento de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do Mapa — Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, criticou a forma como alguns representantes do setor receberam as últimas medidas de incentivo para retomada do crescimento, elaboradas pelo governo. O representante falou sobre o mercado de etanol, açúcar, biomassa e logística.

JornalCana: Que avaliação o senhor faz sobre o setor sucroenergético?

Cid Caldas: O setor começou a tomar um novo rumo em 2012, após os problemas financeiros e de produtividade ocorridos em 2008. O segmento está se reerguendo e a perspectiva é promissora.

A que se deve esta recuperação?

No último ano, disponibilizamos um programa de financiamento para a renovação dos canaviais, o ProRenova, porque tivemos uma perda de produtividade em decorrência da falta de práticas adequadas. Foram destinados R$ 4 bilhões para este projeto, que no início, passou por algumas dificuldades burocráticas, mas que ao longo do ano foram superadas. Nunca houve um programa com prazos tão longos como este. Em 2013, renovamos a iniciativa, que conta com mais R$ 4 bilhões à disposição do produtor, com uma taxa muito atrativa, no caso 5,5%. O segundo programa é a questão do financiamento de estoque. O dinheiro estava à disposição e não foi usado, pois não havia nada para estocar. Mas os produtores nos solicitaram que nesta safra o programa fosse refeito e nós atendemos.

Os programas valem para toda a cadeia?

Claro que não. Nem todos irão usufruir. Tem indústrias que não têm condições financeiras para adquirir o financiamento. Para esses, não temos o que fazer. O recurso está disponível e o produtor pode buscar.

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Quais suas perspectivas sobre as estimativas da safra?

O levantamento da Conab — Companhia Nacional de Abastecimento, aponta 653 milhões de toneladas de cana, ou seja, 11% a mais que na safra passada. Nós estimamos 2 milhões adicionais de etanol com essa quantidade de cana. Outro ponto positivo é o aumento da mistura de etanol na gasolina, que comercializará mais etanol. É um cenário otimista.

Como o senhor avalia o pacote de incentivos ao etanol?

Todas as medidas anunciadas até agora são positivas. Logo no início do ano, o aumento do preço da gasolina já trouxe competitividade do etanol hidratado em relação ao combustível fóssil. Mas é muita reclamação. Os representantes do setor nunca estão satisfeitos. Qual medida apontada que não tomamos? Claro que todos querem uma política de preços diferenciada. Mas não é só o etanol que movimenta a economia. Quando você alinha, por exemplo, o preço da gasolina com o mercado internacional, você pode aumentar a inflação no país. E isso não afeta só o setor, mas o país como um todo.

O Brasil conseguirá alinhar os preços da gasolina com o mercado exterior?

Se lá na frente o preço dos barris caírem, este setor vai aceitar? Tenho certeza que não. Mais uma vez, vão querer que o governo tome uma medida para conter o preço. É muito discurso e pouca ação. Gostaria de ver estes representantes na cadeira do governo para saber se eles tomariam essas medidas.

Então qual seria o caminho?

Cada um enxerga o seu negócio e cabe ao governo ver toda a economia. Não podemos tomar atitudes que prejudiquem o país. O efeito de uma ação pode ser prejudicial para a grande maioria.

O anidro foi esquecido pelo governo neste pacote?

O aumento da mistura de 20 para 25% de etanol na gasolina acarretará 1,9 bilhões de litros de etanol nesta safra, o que já é um grande incentivo. Existem também as regras de comercialização da ANP — Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, onde as distribuidoras são obrigadas a fazer contratos, o que traz uma garantia ao produtor. Essa regra foi implementada na safra passada, aperfeiçoada para a atual e trará resultados. Além do financiamento de estoque, que vale para os dois tipos de etanol. São três medidas que o governo tomou que contemplam o etanol anidro.

É viável pensarmos em apenas um tipo de etanol no país?

Isso já foi colocado em pauta pelo Ministério de Minas e Energia. Estamos fazendo testes técnicos para saber se será favorável. Não vejo nenhuma mudança em curto prazo neste sentido. Teríamos que passar as barreiras técnicas e tributárias, já que de um produto para o outro existem diferenças. Caso fosse possível ultrapassar essas duas barreiras, podemos pensar em mudanças.

Qual o papel da biomassa na cadeia energética brasileira?

O setor sucroenergético precisa acreditar. Digo isso porque recurso no BNDES — Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social não falta. Para energia elétrica, por exemplo, existem recursos disponíveis para quem deseja investir e modernizar seu parque fabril para dar eficiência à queima do bagaço. Sobre a palha, avaliamos técnicas para saber qual a melhor forma de trazê-la do campo sem que haja prejuízo para o solo. A maioria das unidades trabalham com equipamentos não apropriados para a nova realidade de otimização da biomassa. Existem recursos à vontade, é só querer.

Sobre os problemas de logística do setor. Quais as perspectivas?

Não podemos comparar o problema da safra de grãos com a do setor sucroenergético. As exportações de açúcar se dão em meados de junho e julho, quando não teremos a mesma magnitude do problema que vemos agora com os grãos. Já o etanol adicional não vai causar transtorno, como já não vem causando. Não vejo maiores problemas nesta parte.

Há algo mais que o senhor gostaria de mencionar?

Percebo que o governo faz e não recebe em contrapartida nenhum elogio dos representantes do setor. Eles querem sempre mais. Questionam sobre uma regulação de longo prazo, mas não apresentam soluções. O setor sucroenergético é o único da economia, liberado, e quer voltar a ser regulado. Existem contratos feitos para a garantia do abastecimento de etanol, além da garantia ao produtor que terá um comprador para o seu produto. Realmente não entendo toda essa reclamação.