Mercado

Diretor da UNICA comenta sobre qualidade do etanol produzido no País e aponta fatores que permitirão queda no preço do p

Entrevistado: Marcos Sawaya Jank

Formado na ESALQ em 1984, presidente da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (UNICA) desde junho de 2007

Como executivo do setor sucroalcooleiro, você considera que é possível que o setor produtivo nacional consiga produzir um etanol de boa qualidade e com preço mais competitivo frente à gasolina?

O que acontece é que o setor passa por uma revolução extraordinária, que começa na criação do programa do etanol nos anos 1970, avança com os automóveis flex que hoje já atingem 50% da frota brasileira e, nos últimos anos, com a internacionalização do etanol por conta dos programas de vários países que tem buscado essa via energética como forma de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Hoje o principal programa no mundo é o norte americano e nós estamos nesse momento em uma imensa ‘briga’ para abrir aquele mercado para o produto brasi leiro. Existem ainda o programa europeu, o japonês e mais cerca de trinta países trabalhando com esse propósito.

Mas o preço será competitivo para o consumidor?

Durante os últimos trinta anos, o preço do etanol caiu cerca de 70% em termos reais, enquanto o petróleo triplicou de preço. Portanto, o etanol só ganhou competitividade neste período e o petróleo perdeu. A tendência é o petróleo custar cada vez mais e os biocombustíveis cada vez menos.

Quais fatores permitirão a queda do preço do etanol?

Isso ocorrerá porque o etanol é limpo e renovável e ainda podemos incorporar muito mais tecnologia. Basta dizer que há trinta anos nós produzíamos 3 mil litros de etanol por hectare e hoje estamos chegando a 8 mil litros por hectare. Temos tecnologias em laboratório que permitirão atingirmos 14 mil litros por hectare. A ESALQ tem um papel muito importante nessa trajetória, assim como a região de Piracicaba como um todo, já que o CTC, nosso principal centro tecnol ógico está localizado aqui. Basta dizer que ainda estamos iniciando a utilização do bagaço e da palha da cana, a chamada biomassa da cana, para produzir eletricidade e etanol celulósico de segunda geração. Ou seja, o etanol já teve o seu custo reduzido e, com os ganhos de produtividade que ainda virão de pesquisas de ponta a serem concretizadas, nós reduziremos ainda mais, sem contar o efeito ambiental gerado pela redução de emissão de gases do efeito estufa em escala global. No ano passado, ganhamos o nosso “passaporte” para exportar o etanol para o mundo com o reconhecimento do etanol de cana-de-açúcar como um “biocombustível avançado” pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, a EPA.