O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, defendeu ontem o reajuste nos preços dos combustíveis como forma de garantir recursos para financiar os bilionários investimentos da empresa. Barbassa fez a defesa diante das perdas com a importação de combustíveis e a desvalorização do real, o que piorou os indicadores de alavancagem da companhia, que medem sua dependência de financiamento de terceiros e permitem que mantenha a classificação de grau de investimento.
“Em condições estáveis é possível que até o fim do ano ainda tenhamos [um aumento do nível da alavancagem]. Isso na hipótese de não conseguirmos aumentar o preço dos derivados no mercado doméstico, atividade e assunto no qual estamos trabalhando intensamente”, disse.
Segundo o diretor, o objetivo é “buscar o ajuste ou o alinhamento dos preços domésticos aos internacionais”. Assim, acredita Barbassa, mais recursos da área operacional serão usados para financiar o plano de negócios.
Como é sabido, a companhia não tem liberdade para reajustar seus preços, dependendo de autorização do conselho de administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Considerando as preocupações do governo com inflação e o atual clima político, os analistas vêm pouco espaço para um aumento, apesar da piora dos números da maior estatal brasileira. O momento da Petrobras é de intensificação dos dilemas, situação que ficou clara com o resultado do trimestre.
Ao reportar lucro de R$ 6,2 bilhões, a companhia informou que economizou R$ 2,9 bilhões em programas de redução de custos operacionais, mas o mercado não consegue enxergar isso. Os custos com a comercialização de produtos e serviços subiram 2,3% no segundo trimestre, para R$ 54,9 bilhões.
Já o investimento de R$ 23,173 bilhões no trimestre ficou R$ 7 bilhões acima das receitas obtidas com suas atividades operacionais (R$ 16,19 bilhões), resultado que mede a chamada “queima de caixa”. A companhia se prepara para o crescimento de sua produção de petróleo no momento em que também aumenta investimentos. Com isso passa a depender mais de financiamento externo. Completa o cenário o aumento do consumo de combustíveis, que levou ao uso de 99% sua capacidade de refino.
A defasagem dos preços do diesel e da gasolina importados aumenta devido à desvalorização do real frente ao dólar. Pelos cálculos do mercado, a atual defasagem em relação ao mercado internacional é de 22% a 23,5% na gasolina e 18% a 24% no diesel.
Ao admitir que os indicadores de alavancagem (que mede sua dependência de financiamento de terceiros) vão continuar aumentando, Barbassa afirmou que a única forma de evitar esse efeito é não fazer mais nenhuma captação até dezembro e também não investir. Dessa forma, manteria intactos os US$ 32,8 bilhões que tinha em caixa.
Pelo critério que considera a dívida líquida dividida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) anualizado pelos últimos 12 meses, a alavancagem está em 2,9 vezes. A companhia informa um indicador menor, de 2,57 vezes considerando o indicador do semestre anualizado. Mas ambos estão acima do limite de 2,5 vezes estabelecido pela Petrobras em seu plano de negócios. E chega a 3 vezes quando excluído o efeito da venda dos ativos na África, calcula o Itaú BBA.
Já o indicador medido pela dívida líquida sobre o capital líquido atingiu 34%, também próximo do limite de 35% estabelecido pela própria Petrobras. Os analistas Luiz Carvalho e Filipe Gouveia, do HSBC, veem crescer o risco de a companhia precisar de um aumento de capital e de perder a classificação de “grau de investimento”.
Gustavo Gattass, do BTG Pactual, também vê o mesmo perigo. O analista calcula que a queima de caixa com a atividade, já descontados investimentos, é de US$ 5,6 bilhões no trimestre, o que segundo ele é apenas “mais uma confirmação do risco de a companhia precisar de um novo aumento de capital no futuro”.
Os analistas do HSBC se dizem preocupados com a capacidade da companhia reagir à tendência de aumento do consumo de combustíveis no país, observando que a utilização de 99% da capacidade instalada das refinarias é insustentável, mesmo considerando melhorias e investimentos adicionais no parque de refino.
O banco espera aumento de 5% do consumo de combustíveis nos próximos anos e lembra que nenhuma das novas refinarias ficará pronta antes de 2015. A Petrobras informa que a primeira fase da refinaria de Pernambuco ficará pronta em novembro de 2014 e, a segunda, em maio de 2015. O Comperj, no Rio, virá depois, com a primeira unidade começando a produzir em agosto de 2016 e a segunda, ainda em fase de projeto, prevista para janeiro de 2018.
O diretor de Exploração e Produção, José Formigli, garantiu que quatro novas plataformas entrarão em produção até dezembro, quando também serão perfurados 36 poços em várias áreas. A Petrobras não comentou as denúncias de corrupção envolvendo contratos da área internacional publicadas pela revista Época.