Um novo país está em construção na África: o Sudão do Sul. E o Brasil, assim como Estados Unidos, China e outros governos mundo afora, começa a movimentar-se para participar desse processo. A iniciativa do Itamaraty, além de ajudar a promover a estabilidade e o desenvolvimento do recém-criado Estado, pode criar oportunidades de negócios para as empresas brasileiras e garantir o apoio político do Sudão do Sul às aspirações do Brasil no cenário internacional.
“O Brasil não se limitou a saudar a entrada do Sudão do Sul na comunidade internacional. Seja individualmente ou com os países do Ibas (grupo formado também por Índia e África do Sul), se preocupou em oferecer propostas concretas de cooperação com o Sudão do Sul, sem prejuízo da cooperação com a República do Sudão”, disse o embaixador Tovar da Silva Nunes, porta-voz do Itamaraty.
O primeiro lance foi dado pela diplomacia brasileira no dia 9, quando o Ministério das Relações Exteriores enviou a Juba, a capital do novo país, um representante à cerimônia de independência do Sudão do Sul.
O gesto seguinte ocorreu em Nova York na semana passada, depois da cerimônia em que o Sudão do Sul foi declarado o 193º integrante da Organização das Nações Unidas (ONU). O chanceler Antonio Patriota recebeu o vice-presidente sul-sudanês, Riek Machar, na missão brasileira na ONU. Depois de ouvir de Patriota que o Brasil acolhe com satisfação o novo membro da comunidade internacional, Machar foi direto: pediu a cooperação brasileira nas áreas de agricultura, pecuária de corte e leiteira e no setor de petróleo.
Os dois acertaram então que uma missão do governo sul-sudanês desembarcará ainda neste ano no Brasil para tratar do assunto. Enquanto a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores redige um acordo quadro a ser assinado entre os dois países, o Itamaraty deu também início a uma articulação para envolver a Petrobras e os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e Agricultura no projeto.
O Fundo Ibas também se prepara para ajudar o Sudão do Sul. Estuda fomentar projetos nas áreas de gestão pública na prestação de serviços básicos à população, no fortalecimento da Faculdade de Juba e na promoção da estabilidade e segurança da província de Eastern Equatoria.
O Sudão do Sul, que ontem lançou sua nova moeda, o pound sul-sudanês, nasce depois de décadas de conflitos civis com a parte norte do que era o antigo Sudão. Possui um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano e econômico do mundo, mas tem tudo para aproveitar a exploração de recursos naturais a fim de impulsionar sua economia.
Segundo dados do governo americano, o novo país ficou com cerca de três quartos da produção diária de 500 mil barris de petróleo do antigo Sudão. Mas não tem saída para o mar e deve ser levado a usar os oleodutos e a estrutura de refino controlados pelo governo de Omar Hassan al Bashir, da parte norte. O Sudão do Sul também conta com terras agricultáveis e outros recursos naturais, como ouro, diamantes, cobre, zinco, prata e minério de ferro.
Por ora, um cidadão sul-sudanês será contratado para ser o cônsul honorário brasileiro no país. Num segundo momento, uma embaixada brasileira na região passará também a fazer a ponte entre o governo Dilma Rousseff e o Sudão do Sul. O Itamaraty já planeja abrir uma embaixada em Juba.
Embora o comércio entre Brasil e Sudão ainda tenha pouca expressão, o governo Dilma Rousseff acredita que, com tecnologia brasileira, a região pode se tornar uma fornecedora de alimentos para demais países do Oriente Médio. Já há, inclusive, empresas brasileiras com interesses no país africano na produção de soja, algodão, cana-de-açúcar, etanol e equipamentos para irrigação.
Entre janeiro e junho deste ano, as exportações do Brasil ao Sudão somaram US$ 64,07 milhões, apenas 0,05% das vendas do país ao exterior. Os principais produtos embarcados foram açúcar, trigo, equipamentos para colheita, pulverização de fungicidas e inseticidas, semeadores, adubadores e carne de frango.