O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avalia que é imperativo avançar além da assistência tradicional na área de alimentos para um foco no desenvolvimento agrícola. Em discurso no Comitê de Desenvolvimento do Banco Mundial, o ministro alertou que muitos pequenos agricultores estão sendo empurrados para fora do negócio por causa de distorções criadas pelos subsídios agrícolas.
Mantega disse que a crise financeira elevou a urgência da conclusão de um acordo ambicioso e favorável ao desenvolvimento na Rodada de Doha, que conduza à eliminação de subsídios agrícolas e tarifas nos países desenvolvidos.
Com relação aos biocombustíveis, Mantega observou que a produção a partir da cana-de-açúcar pode se mostrar como uma tecnologia promissora em diversos países em desenvolvimento e deveria ser apoiada como uma fonte estratégica de energia limpa para gerar benefícios ambientais, sociais e econômicos.
“Pesquisa recente corrobora o caso contra mercados altamente protegidos e subsidiados para biocombustíveis no mundo desenvolvido”, defendeu.
O discurso foi feito por Mantega em nome da Constituency do Brasil no Banco Mundial, composta por Brasil, Colômbia, República Dominicana, Equador, Haiti, Panamá, Filipinas, Suriname e Trinidad e Tobago. O ministro brasileiro parabenizou o Banco Mundial pelo New Deal para a Política Global de Alimentos, com objetivo de abordar a chamada meta esquecida do milênio, que é a redução da má nutrição.
“Apoiamos o aumento proposto para o investimento em agricultura, a fim de ajudar a criar uma revolução verde para a África Subsaariana e outros países pobres”, afirmou. Ele também parabenizou o presidente do banco, Robert Zoellick, pelo serviço a favor de uma globalização inclusiva e sustentável.
Para Mantega, o Banco Mundial deveria estar preparado para fornecer suporte financeiro quando necessário. O ministro acredita que a falta de progresso em diversos países com relação ao cumprimento das Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM) tem explicação apenas parcial em fatores domésticos. “Fatores externos também têm contribuído.” Muitos países desenvolvidos, ponderou ao Comitê, têm ficado distante de cumprir seus compromissos em apoiar países de baixa renda, incluindo países da África.
O ministro advertiu que, embora a crise financeira não tenha tido impacto significativo sobre países em desenvolvimento, isto poderia mudar exatamente quando estes países estiverem colhendo os frutos dos benefícios econômicos e sociais das conquistas de grande diligência adotadas para eliminar fontes de instabilidade em suas próprias economias.
Assim como no caso do Fundo Monetário Internacional (FMI), Mantega acredita que aumentar a representação dos países em desenvolvimento dentro do Banco Mundial é central para aumentar sua legitimidade e eficiência como uma instituição multilateral. Ele avalia a reforma do Fundo como positiva, mas diz que não pode ser a base para a reforma do Banco Mundial, que teria de refletir o mandato distinto da instituição multilateral.
Doha pode dar confiança a mercados, diz Pascal Lamy
Diante da incerteza elevada nos mercados financeiros mundiais, o sistema de comércio internacional é uma fonte importante de estabilidade para governos, corporações e consumidores. “O comércio desempenhou este papel muito bem há dez anos, durante a crise da Ásia, atuando na absorção de choques entre os setores financeiro e real da economia mundial”, afirmou o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. “Por isso, a conclusão da Rodada de Doha é a mensagem mais próxima para dar confiança aos mercados financeiros mundiais”, disse Lamy.
“As próximas semanas serão cruciais na Organização Mundial do Comércio. Então, por favor, ajudem-nos a avançar na conclusão da Rodada de Doha agora”, pediu Lamy aos 24 membros do Comitê que representam os 185 membros do FMI. Em discurso proferido ao Comitê Financeiro e Monetário do FMI, ele voltou a advertir sobre os riscos de um fracasso em Doha. Esta situação, comparou Lamy, é semelhante àquela do copo com água até a metade.
“Estou completamente convencido de que temos meios políticos e técnicos para terminar a Rodada de Doha neste ano”, disse ao Comitê que orienta as prioridades políticas do FMI. O primeiro passo, ponderou, é que os membros da OMC concordem em nível ministerial até maio sobre a estrutura para os cortes de tarifas agrícolas, subsídios agrícolas e tarifas industriais. Segundo ele, esta tarefa tem escapado de uma solução por tempo demais.
Lamy afirmou ao Comitê do FMI que as diferenças entre as partes nas negociações não são grandes. Tecnicamente, ele acredita que será possível fazer a ponte entre os posicionamentos dos ministros sobre a questão. O que é necessário, avaliou, é o posicionamento político das partes.
Existe claramente uma ligação entre a produção de biocombustíveis a partir de alimentos e os preços mais elevados destes produtos, disse o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, depois do encontro do Comitê de Desenvolvimento do Banco Mundial. O executivo citou preocupação de membros do Banco Mundial com a questão e a existência de estudos sobre biocombustível baseado em cana-de-açúcar no Brasil.
Zoellick falou sobre estudos mostrando eficiência adicional na produção de biocombustível a partir da cana e também mais benefícios em termos de emissão de gases de efeito estufa. Zoellick também cita a segunda geração de biocombustíveis desenvolvidos a partir de celulose. “Inúmeras pessoas destacaram isso, pois pode ser uma forma de evitar parte dos custos sem usar a produção de alimentos”, afirmou.
No comunicado após o encontro do Comitê, a avaliação é que os preços mais elevados de commodities estão afetando os países de formas diferentes, e que países mais pobres serão afetados severamente por preços elevados de alimentos e energia.
O Banco Mundial, diz o comunicado, lançou o New Deal para Política de Alimentos Global para lidar com necessidades imediatas da crise daqueles que passam fome. Os ministros do Comitê de Desenvolvimento endossaram o programa e pediram aos países doadores do Banco Mundial o preenchimento da lacuna de US$ 500 milhões identificada no Programa Mundial.
Zoellick citou o Brasil para ilustrar que há países em desenvolvimento contribuindo para o Programa Mundial de Alimentos. A resposta dos países deve ser conhecida até maio. “O Brasil aumentou a contribuição para o programa de alimentos; eles fizeram contribuição especial para o Haiti, onde também estão liderando a missão de segurança da ONU”, disse na entrevista.
Zoellick destaca o programa Solução de Um Por Cento, para a África, que diz que a alocação de 1% dos ativos dos fundos soberanos de riqueza para investimentos poderia gerar US$ 30 bilhões para investimento no crescimento africano.
Paulson afirma que é preciso resistir à tentação do controle nos alimentos
Países que experimentam mudanças negativas em termos de comércio devido aos elevados preços das commodities, incluindo preços de alimentos, devem buscar implementar políticas enérgicas melhores, focando medidas de longo prazo para promover crescimento sustentável agrícola e de desenvolvimento de energia, afirmou o secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, em discurso ao Comitê de Desenvolvimento do Banco Mundial.
Ele citou a existência de linhas internacionais para mitigar os impactos negativos do comércio internacional sobre estes países e advertiu que os governos precisam “resistir à tentação” de adotarem controles de preços e subsídios ao consumo que, no geral, “não são eficientes para proteger grupos vulneráveis”, acrescentou.
Enquanto a correção no mercado de moradias, o tremor no mercado de crédito e os preços do petróleo pesam sobre os riscos ao crescimento dos Estados Unidos, os países em desenvolvimento continuam em trajetória de crescimento econômico recorde, observou Paulson.
No entanto, diante do movimento de alta dos preços das commodities, ele destacou as recomendações feitas pelo Banco Mundial, em relatório, de gerenciamento apropriado das receitas derivadas dos altos preços das commodities pelos países em desenvolvimento, para que se traduzam em base para o crescimento sustentável destas economias. Paulson elogiou a criação do Fundo de Investimento Climático pelo Banco Mundial e disse que os EUA pretendem contribuir com US$ 2 bilhões ao longo dos próximos três anos.