Mercado

Dez grupos controlarão 45% da produção de cana em 2015

SÃO PAULO – A crise de preço e liquidez que atingiu a safra 2009/2010 de cana-de-açúcar no Brasil está afetando entre 30% e 40% das indústrias do setor. A afirmação é de Plínio Nastari, presidente da Datagro. Para o executivo, o resultado do cenário adverso para as usinas será uma mudança na estrutura organizacional das empresas com uma maior concentração entre elas e a entrada de novos e grandes agentes. “Nessa safra os dez maiores grupos representam 30% da produção. A previsão é a de que na safra 2014/2015, os dez maiores grupos representem 45%”, avalia Nastari.

Segundo o presidente da Datagro, o desafio das companhias que atuam no segmento sucroalcooleiro será conseguir níveis maiores de escala, logística, diversificação e verticalização. “Os pequenos só irão sobreviver se organizados em grupo”, diz.

Segundo Nastari, até para serem adquiridos será difícil a posição das pequenas indústrias já que as grandes não vão querer comprá-las em razão da diferença no padrão tecnológico. De modo geral, o ritmo de expansão da capacidade industrial das usinas de açúcar e álcool deve continuar em queda. Em 2009, 23 unidades industriais estão previstas para começar a operar e no próximo ano a estimativa é de que apenas 15 plantas iniciem a moagem. Há ainda 70 projetos anunciados, mas com prazo de instalação indeterminado.

Embora os níveis de preço já estejam suficientemente altos para estimular um aumento na capacidade instalada, produtores e bancos vivem uma ressaca da falta de liquidez e os investimentos devem seguir retraídos. “O histórico do setor indica que o rendimento industrial cai de forma significativa em período pós-crise”, destacou Nastari.

A crise na safra vigente foi afetada ainda pelo fator climático que tem limitado o incremento na produção de açúcar das usinas apesar do incentivo dos preços.

Entre 2006 e 2008, a safra brasileira registrou expansão média de 13,5% ao ano na oferta de ATR. Em 2009, embora a cana no campo permitisse uma expansão de 4% a 5% por conta do clima, o Brasil terá nessa temporada uma redução de 2,2% na oferta de ATR.

De acordo com o presidente da Datagro, essa diminuição deve impedir o País de suprir o mercado mundial de açúcar no seu nível potencial. Para a safra 2010/2011, a previsão é a de que a produção brasileira de açúcar varie entre 32,3 milhões de toneladas e 32,6 milhões de toneladas. Um aumento de 3,5% enquanto o déficit mundial da commodity é de 7%.

“Os fundamentos devem continuar favoráveis nesse mercado porque há um esforço do Brasil, mas que é limitado pela capacidade instalada”, disse Nastari. Ele destacou a produção prevista para a safra da Índia, que se inicia este mês e está estimada em 15,3 milhões de toneladas, novamente abaixo do consumo que é da ordem de 23 milhões de toneladas.

A Datagro também divulgou sua primeira projeção de moagem para a próxima temporada no Brasil. Na safra 2010/2011, a Região Centro-Sul, principal produtora do País, deve processar de 565 milhões a 595 milhões de toneladas, números que podem ser influenciados pelas variações climáticas. “Os fundamentos altistas devem permanecer até meados de 2010”, afirmou Nastari.

Centro-Sul

O Centro-Sul do Brasil, a maior área produtora de cana-de-açúcar do mundo, deverá ficar sem um volume suficiente de açúcar para exportação até o fim de dezembro, e serão necessários preços mais altos para coibir a demanda, informou a consultoria Czarnikow Group.

Os preços do açúcar demerara dobraram este ano, uma vez que o mês de junho mais seco dos últimos 83 anos na Índia e o excesso de precipitações no Brasil prejudicaram as plantações dos dois principais produtores mundiais. O Centro-Sul, mesmo assim, conseguiu aumentar as exportações em 40% neste ano-safra, segundo o relatório da Czarnikow divulgado ontem.

“Todos os importadores estão enfrentando a escassez de oferta”, escreveu Toby Cohen, analista da Czarnikow, no relatório. “O surgimento da demanda indiana por importações e a volta da demanda por parte das refinarias do Oriente Médio se defrontaram com uma enorme alta da demanda por açúcar brasileiro em 2009.”

Nesta safra, os dez grandes grupos do setor representam 30% da produção de cana do Brasil. A previsão é de que na safra 2014/2015, esses dez grupos representem 45%.