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Desenvolver alternativas para o uso da cana-de-açúcar é uma das propostas do plano nacional de agroenergia

O Plano Nacional de Agroenergia, que está sendo lançado hoje, dia 14 de outubro, pelo Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, propõe para a cadeia do etanol, entre outras ações, o desenvolvimento de alternativas que permitam o aproveitamento integral da energia da cana-de-açúcar. Atualmente a produção mundial de álcool aproxima-se dos 40 bilhões de litros, dos quais presume-se que até 25 bilhões de litros sejam utilizados para fins energéticos. O Brasil responde por 15 bilhões de litros deste total.

As outras ações sugeridas pelo Plano incluem a eliminação de fatores restritivos à expressão do potencial produtivo da cultura da cana-de-açúcar, incrementando a produtividade, o teor de sacarose, o agregado energético e o rendimento industrial; o desenvolvimento de tecnologias poupadoras de insumos e de eliminação ou mitigação de impacto ambiental, incluindo tecnologias de manejo e integração de sistemas produtivos, além de novos produtos e processos baseados na alcooolquímica e no aproveitamento da biomassa da cana-de-açúcar

O documento, que será anunciado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (da USP) em Piracicaba, foi elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e faz parte da ação estratégica do Governo Federal para aumentar a produção de biocombustíveis, uma vez que, a partir de 2008, será obrigatório o uso de 2% de biodiesel no diesel nacional. Esse percentual representa quase 1 bilhão de litros de biodiesel por ano.

Na safra 2004, das cerca de 380 milhões de toneladas moídas, aproximadamente 48% foram destinadas à produção de álcool. O bagaço remanescente da moagem é queimado nas caldeiras das usinas, tornando-as auto-suficientes em energia e, em muitos casos, superavitárias em energia elétrica, que pode ser comercializada. No total foram produzidos 15,2 bilhões de litros de álcool e uma geração de energia elétrica superior a 4 GWh durante a safra, o que representa aproximadamente 3% da nossa geração anual.

A cana-de-açúcar é a segunda maior fonte de energia renovável do Brasil, com 12,6% de participação na matriz energética atual, considerando-se o álcool combustível e a co-geração de eletricidade, a partir do bagaço.

Cerca de 85% dos 6 milhões de hectares de cana-de-açúcar produzida no Brasil estão na Região Centro-Sul (concentrada em São Paulo, com 60% da produção) e os 15% restantes na região Norte-Nordeste.

Desafios – A indústria sucroalcooleira vive um momento de otimismo, decorrente de uma conjunção de fatores favoráveis. Ao tempo em que a economia nacional inicia processo de recuperação, que se reflete no aumento do consumo de açúcar e combustíveis, inclusive o álcool, o mercado externo também está cada vez mais atraente e promissor.

Para Silvio Crestana, diretor-presidente da Embrapa, desafios existem e o primeiro, talvez o maior, diz respeito às dimensões do mercado mundial de combustíveis. “O segundo ponto diz respeito à necessidade de um plano diretor para a expansão da indústria sucroalcooleira”, complementa. O plano deverá começar pelo zoneamento agrícola da cana, o qual deve subsidiar não apenas o planejamento da ocupação de novas áreas, como também o gerenciamento de políticas públicas para áreas tradicionais, eventualmente não recomendadas para o cultivo.

Ele ressalta ainda que a primeira ação deve ser a integração entre a Embrapa, Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e demais parceiros no sentido de acelerar os estudos com foco na elaboração do plano estratégico de expansão da lavoura canavieira. “Tal plano deve contemplar, além do privilégio à aptidão agronômica, o enfoque sócio-ambiental, de forma a subsidiar programas de governo que visem evitar problemas como os verificados no âmbito do Programa Nacional do Álcool”, fundamenta o diretor-presidente.

Uma das diretrizes deve ser o desenvolvimento de nstrumentos que promovam a desconcentração da produção. “A concentração regional, onde São Paulo responde por mais de 60% da produção, é tão preocupante quanto o processo de verticalização, em que a cana própria já representa mais de 70% do suprimento das unidades industriais, num processo fortemente excludente para os pequenos e médios fornecedores”, enfatiza Silvio.