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Desafio à derrocada da cana no Rio

O empresário Ludovico Giannattasio, de 66 anos, nascido em Campos dos Goytacazes, norte do Rio de Janeiro, e criado na capital do Estado, tem o ambicioso projeto de conseguir algo até agora inédito: revitalizar a agroindústria sucroalcooleira na região que tem sua cidade natal como principal referência. Sua destilaria de etanol, a Canabrava, é uma das três únicas indústrias de moagem de cana existentes atualmente em uma área que tinha mais de 20 na década de 1980.

Giannattasio promete investir R$ 800 milhões em quatro anos, já incluindo R$ 200 milhões aplicados na primeira unidade, para multiplicar o número de usinas por quatro até o fim de 2015 e alcançar uma oferta própria de 4 milhões de toneladas de cana, quase o dobro do que colhe hoje toda a região e dez vezes o que a Canabrava moeu na safra passada (400 mil toneladas). Além de ser uma usina nova, com equipamentos modernos, a Canabrava tem um diferencial na região: é a única que gera energia elétrica a partir de bagaço de cana. A geração, segundo o empresário, chega a 44 megawatts (MW) durante a safra, dos quais 30 MW são vendidos no mercado livre.

O empresário disse ao Valor que a maior parte dos recursos para o projeto virá de parceria com fundos de investimentos em operação que está sendo coordenada pelo BNY Mellon. Além da Usina Canabrava, que este ano, segundo ele, deverá moer 1 milhão de toneladas de cana, ante uma capacidade total de 1,5 milhão, Giannattasio promete construir outra de porte semelhante na vizinha Quissamã, além de comprar duas usinas tradicionais de Campos que estão fechadas. Uma delas, promete, será a Usina Sapucaia, a maior da região, que estava em recuperação judicial e teve a falência decretada em abril, em uma decisão depois suspensa pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para a realização de uma nova assembleia de credores.

Conforme reportagem publicada no dia 18 pelo Valor, além do imbróglio da Sapucaia, que sozinha pode moer quase 2 milhões de toneladas, a Usina Pureza (300 mil toneladas), em São Fidélis, será transformada em museu-escola. A safra de 2012, que começou a ser moída este mês, não deverá passar de 2,5 milhões de toneladas e o empresário Geraldo Coutinho, presidente regional da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro e dono da Usina Paraíso, uma das duas remanescentes do passado (a outra é a antiga São José, hoje administrada pela cooperativa Coagro), acha que se as três usinas não se acertarem, não haverá cana suficiente para todos cumprirem suas metas. Em 1989, a região moeu 9 milhões de toneladas de cana.

Giannattasio disse que já possui 500 mil toneladas de cana própria e que comprou dos fornecedores da região, pagando 10% adiantados, o restante que precisa para cumprir a meta de moer 1 milhão de toneladas na Canabrava. Ele disse que tentou um acordo de compras conjuntas, mas que não foi bem recebido e agora “vai sobreviver o mais forte, é a lei de Darwin”.

O empresário disse que seu plano de crescimento está apoiado em um projeto encomendado à FGV Projetos (divisão de projetos da Fundação Getulio Vargas) e que a Canabrava foi comprada em 2007 quando estava inacabada, produto de um projeto mal-sucedido. Segundo Giannattasio, ele comprou a usina por R$ 30 milhões e investiu mais R$ 170 milhões para concluir a obra e iniciar as operações em escala comercial, em 2010. Ele disse que o dinheiro complementar foi captado no mercado privado e que a dívida atual é de R$ 130 milhões, financiados a curto de mercado que, ele afirma, não impede que haja retorno para continuar investindo, mesmo a usina operando abaixo da capacidade nominal.

A grande vantagem da Usina Canabrava sobre as demais é que o etanol por ela produzido custa ao comprador apenas 2% de ICMS, quando a alíquota normal seria de 24%. O empreendimento é beneficiado pela lei estadual que incentiva projetos industriais em parte dos municípios do Rio com redução do ICMS.

Giannattasio disse que está investindo em outorga de água, bombas e equipamentos de irrigação para vencer o que talvez seja o maior inimigo da agroindústria da cana de Campos dos Goytacazes: a baixíssima produtividade, de 40 e 50 toneladas por hectare, metade da de São Paulo, por exemplo. Foi nesse ambiente que, segundo ele, sua família migrou da cana para o gado nos 600 hectares que possui na região. “Agora vamos tirar o gado e recolocar a cana”. Ele evita falar sobre as parcerias que está formando com a ajuda do Mellon, para não ter problemas legais. Em Campos, comenta-se que são fundos de pensão de estatais.