O empresário Maurílio Biagi Filho e a Companhia Energética Santa Elisa, de Sertãozinho (SP), puseram um ponto final em um relacionamento de mais de 40 anos. O empresário fez um acerto com seus sete irmãos e vendeu sua participação na usina, uma das maiores do país. O rompimento coloca os Biagi em lados opostos. Com a saída, Maurílio diz que vai continuar “mais presente do que nunca” no setor, à frente das usinas Cevasa e Moema, para as quais já tem um plano estratégico de expansão. Os irmãos Biagi vão focar os esforços no crescimento da Santa Elisa, considerada uma das mais modernas do país em tecnologia.
O acerto final foi concretizado em janeiro, em um processo iniciado ainda na segunda metade da década de 80. Maurílio jura que não houve conflito familiar. “Houve um acerto e nenhum advogado tratou disso. (…). “As divergências que nós temos são de forma. Essas divergências são naturais, até por diferença de idade, de oportunidade.” André Biagi, presidente do conselho administrativo da Santa Elisa, confirma a decisão e também nega desentendimentos familiares. No mercado, as notícias são que a família Biagi já divergia sobre vários aspectos dos rumos profissionais da empresa.
Com faturamento de R$ 460 milhões em 2004 e moagem de quase 6,5 milhões de toneladas na safra 2004/05, a Santa Elisa entra em nova fase. Além da compra da parte de Maurílio, a empresa, que controla as usinas paulistas MB, Vertente e Colorado (em construção), e que tem participação na Moema, dará continuidade à profissionalização, informa André Biagi.
A família Biagi fez sua história e fortuna, no início do século passado, na região de Ribeirão Preto. A Santa Elisa começou a produzir açúcar e álcool nos anos 30. No fim dos anos 40, a família já controlava a Refrescos Ipiranga, hoje a Companhia de Bebidas Ipiranga, fabricante da Coca Cola, e a indústria de base Zanini. Essas empresas continuam nas mãos da família Biagi.
O acerto familiar, conforme Maurílio, começou há 20 anos. “A partir do momento que houve uma decisão familiar de fazer o acerto, a empresa começou a se enfraquecer; ou seja, tomou um rumo, que ao invés de se fortalecer do ponto de vista empresarial, começou a atender a seus acionistas (…)”. Para ele, esse enfraquecimento se deveu a acertos que envolveram cisão do patrimônio e distribuição de terras.
A saída definitiva de Maurílio foi em janeiro. Há três anos, contudo, já havia assumido o controle da Cevasa, que pertencia à Santa Elisa, tornando-se o maior acionista. Também tem a maior participação na usina Moema, onde planeja expandir seus negócios. Maurílio diz que sai da Santa Elisa “um pouco depois da hora que deveria sair”. Em 2002, deixou a presidência da usina para fazer parte do conselho de administração. “Há muito tempo estava procurando um substituto. Percebi que era difícil levar um executivo para a Santa Elisa comigo lá. Eu tinha uma presença muito forte (…)”. Nessa mesma época, a Santa Elisa comprou a participação do Bradesco.
Maurílio reforça que sai sem mágoas, mas que não esquece de sua história na empresa, que começou há mais de 40 anos. “Nasci e estudei na Santa Elisa. Esse é um dos meus orgulhos”. Ele começou a trabalhar na usina na década de 60, com carteira assinada. “A diferença da Santa Elisa com as outras é que ela se diversificou muito”, diz, lembrando que o grupo atuou na área de laranja, com plantio e participação na Sucorrico.
“Fui um executivo que ficou na área de execução. Hoje estou mais na área estratégica”. Seus próximos passos de Maurílio são consolidar a expansão das usinas paulistas Moema e Cevasa.