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Demanda por etanol nos EUA deve gerar recorde mundial de grãos

O mundo deve produzir, neste ano, o seu recorde de cereais, em um aumento impulsionado pela produção de milho voltada para abastecer a crescente demanda pelo etanol nos Estados Unidos, diz o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em relatório divulgado nesta terça-feira.

-A maior parte do aumento será produzido no milho, com uma colheita extraordinária que já começou na América do Sul e um forte crescimento da semeação previsto nos Estados Unidos, afirma a entidade baseada em Roma.

Somadas as produções de trigo, arroz e outros grãos, a produção mundial deve chegar a 2,082 bilhões de toneladas, um aumento de 4,3% em relação ao ano passado.

Metade desse crescimento deverá ser sustentado pela produção de “grãos secundários” (todos menos trigo e arroz), principalmente de milho na América do Norte e na América do Sul, incluindo o Brasil.

Enquanto o governo brasileiro pede ao americano a redução das tarifas para o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, o relatório da FAO destaca que os agricultores brasileiros também estão procurando tirar proveito da demanda pelo milho, matéria-prima do álcool combustível usado nos Estados Unidos.

“Safrinha”

Segundo a FAO, os “altos preços internacionais” estão “induzindo” os agricultores brasileiros a aumentar as plantações do milho safrinha, uma segunda safra do milho que, de acordo com a FAO, deve cobrir uma área recorde de quase 3,8 milhões de hectares neste ano.

Ainda de acordo com as projeções da agência, a produção de grãos secundários, categoria que inclui o milho, deve aumentar de um total estimado em 44,8 milhões de toneladas em 2006 para 51,6 milhões em 2007.

O crescimento de quase 6,8 milhões de toneladas representa quase o aumento total previsto para a produção brasileira de grãos (de 7,7 milhões).

A FAO espera que o país atinja médias agrícolas recordes de 3,7 toneladas por hectare, “com picos acima de 9 toneladas por hectare no Estado-chave do Paraná”.

Para toda a América do Sul, prevê a agência, a produção de grãos secundários deverá aumentar 20% em relação ao ano passado. Na Argentina, essa produção deve ser recorde: 7,7 milhões de toneladas/hectare.

Clima

Segundo a FAO, a produção mundial de grãos também se beneficiou de condições climáticas favoráveis, exceção feita a países da África e à Bolívia, assolada por chuvas torrenciais em algumas regiões e pela seca em outras.

Apesar de prever uma produção mundial de grãos recordista, a FAO alerta que, por causa de conflitos e más condições climáticas, 33 países não deverão ter alimentos suficientes para a sua população.

Entre os países onde a falta de acesso à comida é “generalizada”, a agência da ONU inclui Haiti, Afeganistão, Coréia do Norte, Etiópia e Nepal, entre outros.

Em pior situação, com “falta excepcional de alimentos”, estão Iraque, Zimbábue, Lesoto, Filipinas e Suazilândia.

Em dezembro do ano passado, a FAO lançou alerta sobre o impacto da demanda por biocombustíeis na alta dos preços dos cereais