A crescente demanda global por produtos agrícolas destinados à produção de alimentos e biocombustíveis deverá elevar as exportações brasileiras do agronegócio para pelo menos US$ 60 bilhões em 2012, conforme projeção divulgada ontem (dia 19) pelo Instituto do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). No período de doze meses até março último, os embarques do setor, puxados por soja e derivados, carnes e açúcar e álcool, renderam US$ 51,4 bilhões, conforme critérios do Ministério da Agricultura.
Conforme André Meloni Nassar, gerente geral do Icone, a projeção leva em conta apenas as tendências de crescimento da demanda. Para ele, se da Rodada Doha – em busca de uma maior liberalização comercial global – pudesse sair resultados que de fato beneficiassem significativamente o agronegócio brasileiro, o que parece muito difícil, a projeção do instituto certamente seria muito superior.
“O Brasil tem a combinação entre terras agricultáveis e água disponíveis. Talvez o único outro país no mundo que também tenha essa combinação é a Rússia, mas lá há problemas climáticos”, reiterou Marcos Jank, fundador e presidente de honra do Icone. O aumento da demanda para a produção de alimentos, lembrou, vem do crescimento populacional sobretudo em países emergentes – principalmente na África, o que preocupa Jank – e em áreas urbanas, não rurais. “Neste momento, no mundo, a população urbana começa a superar a urbana”.
Em emergentes como a China, por exemplo, a maioria da população rural pratica uma agricultura de subsistência. E, com a migração para áreas urbanas, esses chineses não só deixam de produzir como se tornam consumidores. Jank também ressalta que, com a tendência de aumento de renda em emergentes, há mudanças nos padrões de consumo que, mais uma vez, têm reflexos para o Brasil. Atualmente, citou, em países como China e Índia começa a se destacar o consumo de produtos como carnes, lácteos, açúcar, frutas e vegetais, enquanto na África sub-sahariana grãos, raízes, arroz e feijão ainda são os grandes carros-chefes.
Para se ter uma idéia da enorme influência chinesa nos rumos do comércio agrícola global, o Icone fez algumas simulações: se no país o consumo per capita de carne bovina crescer 1 quilo – hoje é de 5,6 quilos por ano -, as exportações mundiais do produto crescerão 18%. Para a carne de aves, cujo consumo per capital anual é de 7,8 quilos, o mesmo cálculo resulta em crescimento das exportações da ordem de 20%. No caso da carne suína chega a 25%; no do açúcar, a 3%.
Como nem tudo são rosas, Jank advertiu que o Brasil precisa solucionar alguns gargalos para aproveitar essa crescente demanda internacional por produtos que inclusive já estão entre os principais itens de sua pauta exportadora. Entre outros fatores, disse, é preciso uma política cambial adequada, regras claras e estáveis para o desenvolvimento da biotecnologia agrícola e, principalmente, investimentos em infra-estrutura e defesa sanitária. Em defesa, as exigências dos importadores aumenta no ritmo em que diminuem subsídios e tarifas protecionistas.
Ao comemorar ontem quatro anos de existência do Icone, Jank também anunciou que o instituto agregou bioenergia a seu foco e que acertou uma parceria com o Fumin, fundo multilateral de investimentos do Banco Interamericano de Investimentos (BID). O programa também envolve os demais países do Mercosul, tem por objetivo oferecer “suporte técnico permanente ao setor privado”, vai durar 42 meses e terá orçamento total de US$ 6 milhões – US$ 3,2 milhões do BID. Segundo Jank, o programa poderá ser ampliado para outros países da América Latina e outros setores da economia.