
O aumento da utilização de combustíveis renováveis nos Estados Unidos até 2021 e a decisão de cerca de 40 países, anunciada nos últimos anos, de aumentar por meio de projetos de lei a utilização de etanol em suas frotas de veículos até 2021 deverá impulsionar mundialmente a expansão da indústria de biocombustíveis nos próximos anos.
De acordo com José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP, durante um evento na semana passada, em São Paulo, se a legislação não for mudada, os Estados Unidos terão de importar esse etanol excedente de algum outro país produtor, proporcionando uma oportunidade interessante para o Brasil.
Segundo a conclusão do evento, aliado a esse fator, haverá ainda a necessidade de aumentar a produção e distribuição de energia no mundo. Esta foi a conclusão e os desafios como o cultivo de culturas agrícolas para obtenção de biocombustíveis, sem o choque com a cultura alimentícia; adaptação aos impactos de mudanças climáticas e competição em condições desiguais com os combustíveis fósseis, apontados por pesquisadores no último dia 18/11, durante o “Workshop Bioenergia e Sustentabilidade: a perspectiva da indústria”, na Fapesp.
O encontro foi preparatório para o Processo Rápido de Avaliação (Rapid Assessment Process) sobre biocombustíveis e sustentabilidade que pesquisadores dos Programas Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA) e sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) realizarão, no início de dezembro, na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Paris, na França.
Demanda
Segundo o professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP, José Goldemberg, os Estados Unidos estipularam que, em 2012, deverão consumir 79,8 bilhões de litros de etanol a mais do que o total de 67 bilhões de litros do combustível que obtêm do milho e utilizam hoje. “No caso do Brasil, estima-se que o país também consumirá 24,2 bilhões de litros a mais de etanol obtido da cana-de-açúcar em 2021 do que o total de 37,4 bilhões de litros do biocombustível que utiliza hoje”.
A legislação norte-americana estabeleceu, porém, que essa cota excedente deverá ser de biocombustíveis de segunda geração, produzidos no próprio país, ele completou. Mas especialistas acreditam que essa meta será difícil de ser atingida em razão das dificuldades industriais enfrentadas atualmente para produzir esse tipo de bioenergia obtida não apenas da sacarose presente no colmo da cana-de-açúcar – como a do bioetanol de primeira geração, por exemplo –, como também do açúcar presente nas paredes celulares do bagaço, das folhas e de outros resíduos da planta.
Somadas, essas produções adicionais de etanol para abastecer os Estados Unidos, Brasil e outros países que definiram políticas para aumentar a utilização de biocombustíveis totalizarão 138 bilhões de litros de etanol em 2021″, calculou Goldemberg.
“Outros países também estabeleceram a meta de que, até 2021, no mínimo 10% do total de combustíveis que usam deverá ser proveniente de combustíveis renováveis, o que corresponderá a uma produção adicional de mais 34,8 bilhões de litros de etanol.
Para ele, se esse volume de etanol fosse obtido da cana-de-açúcar, seriam necessários 25 milhões de hectares de terra para cultivar a cultura agrícola, estimou o pesquisador.