Os Estados Unidos despacharão ao Brasil na próxima semana uma delegação de alto escalão para lançar uma parceria estratégica em energia, originalmente anunciada durante a visita do presidente Barack Obama ao país, em março.

O principal interesse de Washington é o etanol brasileiro, que hoje encontra barreiras tarifárias e compete com o etanol subsidiado americano, de milho.

Segundo a Casa Branca, o secretário-adjunto de Energia, Daniel Poneman, desembarca na quarta-feira e se reúne por dois dias com empresários e representantes dos governos estaduais em São Paulo e no Rio.

Na sexta-feira, participa do lançamento do Diálogo Estratégico de Energia EUA-Brasil com o secretário-executivo das Minas e Energia, Márcio Zimmermann, em Brasília.

Na delegação, estão representantes de diferentes braços do governo americano –a Segurança Nacional, o Departamento de Estado, o Departamento do Comércio, a Agência de Comércio e Desenvolvimento dos EUA e a Corporação de Investimento Privado no Exterior.

“Com base no compromisso conjunto dos presidentes [Barack Obama e Dilma Rousseff] de tomar medidas concretas para fortalecer a cooperação entre o setor energético nos dois países, o diálogo estratégico tratará de nosso interesse mútuo em desenvolver energia segura e barata em respeito ao ambiente”, diz o comunicado.

ETANOL E ENERGIA NUCLEAR

O foco, para os americanos, é o etanol, mas o comunicado também cita petróleo, gás natural, energia limpa e energia nuclear.

No passado, os EUA estrilaram com a resistência brasileira em aderir ao protocolo adicional ao Tratado de Não-Proliferação, que prevê inspeções internacionais.

Em junho, o Brasil aprovou as diretrizes do Grupo de Fornecedores Nucleares (NSG, em inglês), que, entre outras coisas, reconhecem o acordo nuclear prévio entre Brasil e Argentina como suficiente para garantir a segurança na aquisição de material sensível.

Já o etanol é uma bandeira de Obama, que defende com veemência em seus discursos o álcool brasileiro como uma fonte mais limpa e barata para os EUA. Sucessivos presidentes declararam a intenção de reduzir a dependência americana do petróleo e, por conseguinte, da volatilidade política no Oriente Médio.

A recomendação de recorrer ao etanol brasileiro consta em relatório recente elaborado pelo influente centro de estudos Council on Foreign Affairs, e é ecoada também por grupos conservadores de peso, como o American Enterprise Institute.

O presidente, porém, esbarra nos produtores de etanol americano de milho, que recebem subsídios e exigem barreiras ao produto brasileiro. O grupo conta com a resistência da bancada ruralista no Congresso e com um dos lobbies mais fortes dos EUA.

Em junho, os deputados americanos concordaram em acabar com os subsídios e as barreiras. Mas o mecanismo está em um pac ote mais amplo, cuja aprovação ficou congelada no Congresso, monopolizado pelo debate sobre a dívida pública americana e agora em recesso.

Apesar disso, as exportações brasileiras de etanol aos EUA crescem. No primeiro semestre, o volume vendido foi 52,3% maior do que o do mesmo período do ano anterior, chegando a 183,5 milhões de litros, ou 5,7% da produção nacional.