Sob o impacto da forte piora da balança comercial, o Brasil registrou novo rombo recorde na troca de bens, rendas e serviços com o exterior, a chamada conta-corrente.
Por trás do rápido aumento nesse deficit estão o crescimento acelerado da importação de combustíveis e uma queda expressiva das exportações de petróleo.
No mês passado, o saldo na conta-corrente ficou negativo em US$ 9 bilhões, o maior deficit já registrado em julho.
O rombo acumulado no ano (US$ 52,5 bilhões), também recorde, é 81% superior ao do mesmo período do ano passado e já se aproxima de todo o saldo negativo de 2012 (US$ 54,2 bilhões).
No acumulado em 12 meses, o deficit em conta-corrente está em 3,4% do PIB (Produto Interno Bruto), pior resultado em 11 anos.
O aumento do deficit nessa conta eleva a dependência do Brasil por financiamento e investimento estrangeiro num momento de instabilidade internacional.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, o desempenho da conta-corrente decorre, principalmente, do resultado da balança comercial, que passou de positivo em 2012 para negativo.
Essa mudança foi provocada principalmente pelo aumento no deficit da conta petróleo, que passou de US$ 4,2 bilhões nos primeiros sete meses de 2012 para US$ 15,4 bilhões neste ano.
A alta foi puxada pela queda na produção da Petrobras (o que reduziu as exportações), pelo aumento de consumo de combustíveis no país e pelo registro atrasado neste ano de US$ 4,6 bilhões de petróleo importado em 2012.
O economista da Rosenberg & Associados Rafael Bistafa não vê tendência de melhora no curto prazo.
Embora o governo atribua a queda na produção de petróleo a paradas programadas de manutenção em plataformas da Petrobras, ele nota uma queda de produtividade nos campos que indica um esgotamento da sua capacidade. “E o pré-sal é apenas um sonho”, ressalta.
Além das trocas comerciais, a conta-corrente inclui também receitas e despesas com serviços, como viagens e aluguéis de equipamentos, mais as transferências de renda, como remessa de lucros e pagamento de juros.
Investimento
Um fator preocupante é que o aumento do deficit em transações correntes não está sendo acompanhado por uma expansão da entrada de investimento produtivo, que, por ser menos volátil que o capital financeiro, é considerado a melhor forma de cobrir o deficit.
No ano, entraram US$ 35,2 bilhões em investimento produtivo, valor abaixo do registrado no mesmo período de 2012 (US$ 38,2 bilhões).
Considerando também os investimentos em ações e renda fixa, além de empréstimos, o saldo na conta capital ficou positivo em US$ 9,4 bilhões em julho e em US$ 59,6 bilhões no ano, o que compensa o deficit corrente –há, portanto, saldo positivo no balanço de pagamentos.
Para a consultoria Lca, o número é positivo, pois revela que o fluxo de capitais para o país está resistindo à piora do quadro externo.
Se o dólar permanecer em patamar mais elevado, a tendência é que o saldo negativo recue, ressaltou Maciel.
O real desvalorizado desestimula viagens ao exterior e remessas de lucros de multinacionais.
Além disso, encarece as importações, ao mesmo que torna as exportações brasileiras mais competitivas.