As usinas sucroalcooleiras investiram pouco na renovação de seus canaviais e, quando o fizeram, plantaram em épocas que tendem resultar em rendimentos menores, o que deverá levar, conforme especialistas, a uma redução da disponibilidade de cana-de-açúcar na próxima safra no Centro-Sul do Brasil.
“A taxa de renovação dos canaviais está abaixo do esperado. Os investimentos das usinas continuam relativamente baixos, já que o foco de boa parte dos grupos continua a ser a redução das dívidas. Mas a situação preocupa, sobretudo por se um ano de La Niña. A depender da intensidade do fenômeno, as temperaturas podem ficar acima da média e as plantações antigas são mais vulneráveis a problemas desse tipo”, diz Michael McDougall, diretor de commodities do banco Societe Generale baseado em Nova York.
Relatório divulgado pelo banco Pine, de autoria do analista Lucas Brunetti, estima que, em média, as usinas terão 590 milhões de toneladas de cana para moer na safra 2017/18 (que começará oficialmente em abril). Essa estimativa considera um cenário médio, mas o volume pode variar de 545 milhões a 635 milhões de toneladas. Porém, “a probabilidade da disponibilidade de cana ser menor na próxima safra do que a atual é de mais 65%”, afirma o relatório.
Como muitas usinas ainda estão com elevados comprometimentos financeiros, houve poucos aportes em renovação dos canaviais, o que deve elevar a idade média das plantações no Centro-Sul para 3,6 anos, maior patamar desde pelo menos a safra 2011/12, quando o Pine começou o levantamento. A idade média do canavial da safra atual é calculada em 3,4 anos.
O problema é que, quanto mais velho fica o canavial, menor a produtividade. Para uma lavoura com idade de três anos, a produtividade costuma ser de 73 toneladas por hectare. Com um ano a mais, o rendimento cai para 66 toneladas. Além disso, realça o Pine, a renovação que foi feita ficou concentrada no plantio de cana que fica pronta para o corte em um ano, cuja área deve crescer 40%.
Da safra atual, deve sobrar um volume pequeno de cana para ser processada na próxima temporada (cana “bisada”), em uma área de aproximadamente 30 mil hectares, estima o Pine. Esse cenário já vem sendo traçado no segmento, com a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), que acredita que haverá cerca de 10 milhões toneladas de cana “bisada” para a próxima safra, ante 36 milhões de toneladas na atual.
Se o volume de cana que o banco Pine estima que haverá disponível para a safra 2017/128 for confirmado, será um volume menor do que as usinas devem processar na temporada atual, calculado pelo banco em 605 milhões de toneladas. Esta estimativa, que foi revisada, indica agora uma quebra ante a safra passada.
Apesar disso, o Pine projeta uma produção de açúcar maior na safra 2017/18, de 35,7 milhões de toneladas, contra 35,2 milhões de toneladas na temporada atual. Já para o etanol hidratado a projeção do banco é de uma produção de 13,5 bilhões de litros, ante 14,6 bilhões de litros calculados para este ciclo. A destilação de etanol anidro deve crescer levemente, de 11,2 bilhões de litros projetados para a safra atual para 11,4 bilhões de litros no próximo ciclo.
Fonte: (Valor)