Lula foi à Argélia, que “já é o maior parceiro comercial do Brasil no mundo árabe”, com um “objetivo comercial”. Era o que se ouvia no “JN” e outros -e era o que importava, por lá.

No enunciado da BBC Brasil, que entrevistou o ministro Luiz Furlan, “Lula chega à Argélia e meta é dobrar as exportações”.

Também nas agências pelo globo, que voltam a cobrir Lula extensivamente, só negócios.

No enunciado da britânica Reuters, “Brasil disputa projeto de obras de US$ 60 bilhões na Argélia”. De novo, Furlan era entrevistado e dava detalhes.

No título da espanhola EFE, “Lula chega a Argel para visita de alto conteúdo econômico”.

Foram na mesma toada a americana AP, a France Presse, a cubana Prensa Latina -e até a Agência Bolivariana de Notícias.

Mas chegou o final da tarde e nada de negócios na cobertura eletrônica, dos blogs às rádios.

Na submanchete do Globo Online e outros sites, “Lula não bebe há 40 dias, diz Furlan”.

Na brincadeira do ministro, era referência ao regime que fez Lula perder 12 quilos, mas os textos remetiam a Larry Rohter -o correspondente do “New York Times” e sua insinuação de alcoolismo do presidente.

Aliás, nada como um regime presidencial para estimular o telejornalismo brasileiro. Da escalada do “Jornal da Record”, anteontem:

– Médicos criticam a dieta que fez o presidente Lula emagrecer 12 quilos.

EUA, BRASIL E O ETANOL

Segundo a Agência de Notícias Brasil-Árabe, criada na cúpula entre países árabes e sul-americanos, “a Argélia é grande fornecedora de petróleo ao mercado brasileiro” e foi para reduzir o déficit resultante que Lula viajou até lá.

Como se livrar dos altos custos do petróleo: dos EUA à Europa, é a pauta recorrente desde o pronunciamento sobre “o estado da união”, de George W. Bush. Segundo a agência Reuters, em despacho reproduzido no site do “NYT”, será o tema da reunião do G8, no fim de semana. O objetivo expresso é criar mecanismos para estimular o investimento em alternativas de energia, como o etanol.

Nos EUA, continua a pressão para abrir o mercado ao etanol brasileiro. A questão estava anteontem no “Wall Street Journal”, na reportagem “Como o Brasil venceu o vício de petróleo”. De um especialista, de Washington:

– Não faz sentido taxar etanol de países amigos como Brasil quando não taxamos o petróleo da Arábia Saudita.

E estava lá a questão no “New York Times” de ontem, na coluna do célebre Thomas L. Friedman, em meio a mais um duro ataque ao vice-presidente Dick Cheney:

– Por que esta administração permite a taxa de US$ 0,54 por galão sobre etanol importado? Sim, nós taxamos o etanol que é importado do Brasil, mas não o petróleo importado da Arábia Saudita, da Venezuela e da Rússia.

Para Friedman, a política de energia do país, hoje, não passa de “plano Marshall para terroristas e ditadores”.

Em tom diverso, falando da resistência dos produtores americanos, “Washington Times” e “Financial Times” também abordaram a perspectiva de importar do Brasil.

Mas nos EUA, antes de mais nada, falta infra-estrutura. Segundo reportagem no “Miami Herald”, a distribuição é o que mais ameaça a vontade de Bush de diminuir o “vício por petróleo”. Não se encontra etanol nos postos.

Ato contínuo, no meio do dia a agência AP distribuiu despacho noticiando que Ford e General Motors têm planos para a expansão dos postos de venda de etanol.

Em meio a tanta conclamação pela retirada da taxação do etanol, à noite apareceu a notícia, nos sites noticiosos do Brasil, de que os EUA sobretaxaram o suco de laranja.