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Danos causados pela cigarrinha-da-raiz da cana-de-açúcar

A mudança de manejo na colheita da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, com a utilização de colhedoras mecanizadas e sem queima, tem permitido o desenvolvimento da cigarrinha-da-raiz da cana, Mahanarva fimbriolata. Esta praga sempre esteve presente nos canaviais paulistas, porém, com a queima da palhada, sua população não afetava a produção de cana. Atualmente, a cigarrinha-da-raiz praga tem atacado, aproximadamente, 1 milhão de hectare com colheita sem queima e áreas com queima nas adjacências, provocando enormes prejuízos.

M. fimbriolata possui ninfas especificamente radicícolas e se desenvolvem sobre as raízes superficiais ou adventícias inferiores. Sugam a seiva, segundo a sua idade, envolvendo-se numa espuma branca, espessa e que serve como proteção a inimigos naturais. Os adultos são de hábitos crepusculares-noturnos, ficando escondidos dentro do enviés das folhas durante o dia.

O dano mais importante que essa espécie de cigarrinha causa é a redução no tamanho e grossura dos entrenós da cana grande e a morte de rebentos jovens. Em áreas mais atacadas, ocorre a “queima da cana”, sendo conseqüência direta ao ataque das folhas, devido à injeção de substâncias tóxicas da saliva dos adultos da cigarrinha.

As ninfas, ao se alimentarem, ocasionam a “desordem fisiológica” em decorrência de suas picadas que, ao atingirem os vasos lenhosos da raiz, o deterioram, impedindo ou dificultando o fluxo de água e de nutrientes. A morte de raízes ocasiona desequilíbrios na fisiologia da planta, caracterizado pela desidratação do floema e do xilema que darão ao colmo características ocas, afinamento e posterior aparecimento de rugas na superfície externa.

Os adultos ao injetarem toxinas produzem pequenas manchas amarelas nas folhas que, com o passar do tempo, tornam-se avermelhadas e, finalmente, opacas, reduzindo sensivelmente a capacidade de fotossíntese das folhas e o conteúdo de sacarose do colmo. As perfurações dos tecidos pelos estiletes infectados provocam contaminações por microorganismos no líquido nutritivo, causando deterioração de tecidos nos pontos de crescimento do colmo e, gradualmente, dos entrenós inferiores até as raízes subterrâneas. As deteriorações aquosas apresentam cores escuras começando pela ponta da cana e podem causar a morte do colmo.

Em decorrência do ataque das ninfas e adultos da cigarrinha, os danos são visíveis na lavoura, com colmos de cana mais finos e até mortos, causando perdas de até 60% de peso e, principalmente, do teor de sacarose, devido à contaminação por toxinas e microrganismos no colmo, provocando danos na produção de açúcar e de álcool.

José Eduardo Marcondes de Almeida, Doutor em Entomologia, Pesquisador Científico do Instituto Biológico, do Laboratório de Controle Biológico em Campinas-SP. Atua com controle microbiano de insetos, desde 1991, principalmente com pragas da cana (cupins e cigarrinhas), produção e formulação de bioinseticidas.

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