O governo da Venezuela decidiu retomar a importação de etanol do Brasil, suspensa desde outubro passado, como informou o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Em 2006, esses embarques renderam ao Brasil US$ 15,897 milhões – em 2005, somaram US$ 271 mil. O contrato será negociado entre Petróleos de Venezuela (PDVSA) e Petrobrás.
Entretanto, o gesto de boa vontade de Caracas não diminui o potencial de conflito entre o Brasil e a Venezuela na discussão sobre biocombustíveis durante a 1ª Cúpula Energética da América do Sul, que começou ontem e continua hoje em Isla Margarita.
Ontem o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, conseguiu bloquear a tentativa das delegações da Venezuela e da Bolívia de incluir, na declaração que será assinada hoje pelos chefes de Estado sul-americanos, a advertência de que a produção de insumos para os biocombustíveis não deve prejudicar as safras agrícolas nem as áreas de proteção florestal da região.
Se aprovada, essa advertência estaria em sintonia com as críticas dos presidentes Fidel Castro, de Cuba, e Hugo Chávez, da Venezuela, disparadas pouco depois da assinatura do memorando de cooperação sobre biocombustíveis Brasil-Estados Unidos, firmado em março pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush.
Até a noite de ontem, a última versão da declaração ampliava essa advertência a todos os combustíveis – inclusive para a produção de gás e de petróleo. Mas nada garante que o consenso entre os ministros de Energia seja reaberto hoje nos debates entre os presidentes. Como disse uma fonte do governo, nenhum acordo ou texto oficial negociado com a delegação da Venezuela está fechado antes da assinatura de Chávez.
Ontem, no programa semanal Café com o Presidente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que perguntaria ao colega venezuelano as razões que o levam a criticar tanto a produção de etanol. Ainda não sei qual é a base técnica ou científica das críticas. Espero que tenhamos oportunidade de discutir um pouco esse assunto, disse Lula.
Ninguém deixa de comer no mundo por falta de alimento, mas por falta de renda. A produção é hoje suficiente para atender a 12 bilhões de pessoas, o dobro da população mundial. O perigo de o biocombustível afetar a produção de alimentos existe tanto quanto o do gás e do petróleo, disse Marco Aurélio. O próprio Chávez já admitiu para mim que a opção da Venezuela pelo petróleo interfere na produção agrícola do país. O preço do petróleo compromete a agricultura. Segundo ele, Lula tentará manter um debate mais racional sobre o tema e afastar os argumentos passionais.