Mercado

Cuba quer parceria para revitalizar seu sucateado setor

Tradicional produtor mundial de açúcar no passado, os cubanos de hoje estão atrás de parcerias para revitalizar seu parque industrial açucareiro. Sucateado e com pouca infra-estrutura, a produção de açúcar em Cuba está estimada em 2,5 milhões de toneladas, três vezes menos do que o país produzia há 10 anos.

“O governo cubano pediu apoio dos empresários brasileiros para revitalizar seu parque industrial”, diz Luiz Carlos Correia, diretor da consultoria Canaplan e do conselho da Unica — União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo. Os empresários cubanos, afirmou Correia, querem dar uma solução ao setor sucroalcooleiro por meio de parcerias com executivos estrangeiros, que teriam mais condições de injetar capital naquele país.

Mas a decisão é difícil. O Brasil, segundo Correia, é muito competitivo e tem ainda muito espaço para crescer. “Os investidores externos enxergam o Brasil como um grande potencial. Seria muito arriscado para os produtores brasileiros se aventurarem em outras regiões fora do país”, afirma.

Nos últimos anos, o setor sucroalcooleiro de Cuba passou por um período de reestruturação, que resultou no fechamento de mais de 70 unidades produtoras de açúcar no país. Atualmente as unidades produtoras de açúcar somam um pouco mais de 50 empresas, controladas, com rigor, pelo governo cubano, informou uma fonte da Unica ao Jornal Cana.

A atual safra cubana está estimada em 2,5 milhões de toneladas de açúcar, ante um total produzido na safra passada, de 3,6 milhões de toneladas, o que representa um recuo de 30,5%, de acordo com informações da CubAzucar às agências internacionais. Há dez anos, a produção do país era de 8 milhões de toneladas de açúcar. Os cubanos sempre tiveram um papel importante no mercado internacional. Contudo, a participação das vendas cubanas no mercado externo foi caindo aos poucos, como reflexo da perda da competitividade daquele país e dos poucos investimentos realizados pelos empresários do setor.

“O governo cubano mostrou-se disposto a arrendar suas usinas aos empresários interessados em investir no setor sucroalcooleiro”, afirmou Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Açúcar e Álcool de Minas Gerais. A joint venture seria possível por meio de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Além de revitalizar o setor açucareiro, os cubanos também estão interessados na produção de álcool, a exemplo do Brasil, para efetuar a mistura na gasolina. “Eles estão interessados também na construção de destilarias e na co-geração de energia por meio do bagaço da cana-de-açúcar”, acrescentou Martins.

Mas os investimentos dos empresários do setor sucroalcooleiro do Brasil em Cuba são vistos com desconfiança por fontes do setor. “O governo cubano exerce forte interferência no setor produtivo. Com a morte de Fidel Castro, o cenário será completamente diferente, ninguém arrisca dizer como ficará depois”, disse a fonte ao Jornal Cana.

Nos últimos três anos, o Brasil registrou forte crescimento no setor sucroalcooleiro. Mais capitalizados, os empresários apostaram na expansão do setor, que também passou por um período de concentração dos negócios, com a aquisição de usinas de açúcar e álcool. Foram mais de 20 negócios nos últimos três anos. No mesmo período, as usinas de açúcar e álcool foram alvo de interesse de empresários estrangeiros, sobretudo os franceses. Grupos como Béghin-Say e Louis Dreyfus entraram no Brasil, adquirindo usinas eficientes. O grupo Louis Dreyfus, por meio de sua controlada Coinbra, comprou as usinas Cresciumal, de Leme (SP), e De Luciânia, de Minas Gerais. O grupo garante que não vai parar por aí e deve anunciar novas aquisições nos próximos meses. A também francesa Béghin-Say entrou no país com a aquisição da Açúcar Guarani, com duas usinas de açúcar e álcool.

O processo inverso, com empresários do açúcar e do álcool brasileiros investindo no exterior, está parado. Há dois anos, importantes empresários do setor sucroalcooleiro acenaram com a possibilidade de apostar na construção de usinas nas ilhas do Caribe. O investimento teria um alvo certo: os Estados Unidos. É que os norte-americanos importam parte do álcool que consome via Caribe. O produto brasileiro é enviado para o Caribe, industrializado e reexportado para os Estados Unidos. Mas os investimentos neste sentido foram congelados e os executivos brasileiros passaram a apostar na expansão do setor no próprio território nacional.

“Cuba tem um parque industrial defasado, mas um importante mercado no exterior, o que poderia compensar os investimentos. No entanto, é preciso pensar na expansão com calma. Esperar o momento certo para que um passo maior não seja dado em vão”, observou uma fonte do setor.

Cuba quer adotar tecnologia brasileira, diz cônsul

“Temos um grande interesse na parceria com os empresários brasileiros”, afirmou ao JornalCana o cônsul de Cuba no Brasil, Rafael Suárez Rivacoba. Segundo Rivacoba, o governo cubano quer adotar a tecnologia brasileira na produção de álcool e co-geração de energia por meio do bagaço de cana. “Estamos conversando com alguns grupos do país”, acrescentou o cônsul sem dar mais detalhes.

Cuba hoje tem cerca de 15 destilarias, mas produz álcool somente para fins industriais para os setores farmacêuticos e de bebidas. Ele explicou que a parceria seria feita através de arrendamento e não pela compra de terras ou usinas. Além da tecnologia, o governo de Cuba, afirmou Rivacoba, tem interesse em ampliar parcerias industriais em outros segmentos econômicos.

Banner Evento Mobile