Trabalhadores, empresários e representantes de entidades ligadas à cadeia produtiva da cana-de-açúcar viajaram quase doze horas, de Sertãozinho a Brasília, para participar na manhã dessa quarta-feira, 10, de uma Comissão Geral no Plenário da Câmara dos Deputados, organizada pelo deputado João Henrique Caldas (JHC), pela Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético e pela Bancada alagoana, que discutiu os desafios e soluções para a crise do setor sucroenergético.
Segundo o deputado JHC, a situação crítica do setor está relacionada ao fato de que “o governo se dedicou a manter o preço da gasolina baixo, artificialmente, o que prejudicou a competitividade do etanol”, disse. Para ele, o setor precisa que o etanol volte a ser competitivo e que sejam criadas linhas de crédito exclusivas.
Representando a indústria, o diretor técnico do CEISE Br, Paulo Gallo, destacou o cenário difícil atualmente vivido por este elo da cadeia, principalmente em Sertãozinho, que é o maior polo industrial do setor do país. “Nos últimos três anos, a o setor “viu” derreter 15 mil postos de trabalhos na região em que estão instaladas as empresas associadas ao CEISE Br”, enfatizou. Citou a necessidade de apoio a um programa de retrofit, que provocaria resultados positivos imediatos no setor. “A indústria de base está sofrendo, o cenário é ruim; o setor está na UTI em estágio terminal e precisamos de ações de curtíssimo prazo”, concluiu Gallo.
Elizabeth Farina, diretora-presidente da UNICA, alertou para o fato de que “estamos tratando de um setor que tem profunda capacidade de alavancar o desenvolvimento econômico nas regiões onde está implantado. Nós precisamos nos planejar, definir uma ação estratégica para o setor, sendo que uma delas é decidir o lugar e a função na nossa matriz energética do etanol e da energia de biomassa”, discursou.
De acordo com Manoel Ortolan, presidente da Canaoeste, “os produtores de cana, no estado de São Paulo, estão entrando, praticamente, na 6ª safra com produtividade abaixo de 80 toneladas por hectare”, disse ele ao fazer referência da necessidade de linhas de crédito específicas para investimento e custeio agrícola, visando modernização e recuperação dos canaviais.
Já o prefeito de Sertãozinho, Zezinho Gimenez, defendeu a necessidade de se criar um marco regulatório para o setor. “Tivemos algumas conquistas, mas é preciso mais para que o empresário acredite, para que o setor tenha a confiança de quem investe, de quem produz o etanol”, explicou ele.
Segundo o Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, “é o momento de definir políticas estratégicas, duradouras para que não comprometamos ainda mais este setor que enfrenta uma situação com 60 usinas fechadas, 80 em recuperação judicial, com milhares de empregos perdidos, e, mais do que isso, a oportunidade que o Brasil perde de ser fronteira vanguardeira na nova economia, na economia da energia renovável”, ponderou.
O presidente da Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético, deputado Sérgio Souza, também discursou no plenário chamando a atenção para que “a crise não está só no campo, é uma cadeia toda que está sofrendo”, exclamou. Para ele, “não é só um problema do ponto de vista econômico, mas sim de saúde dos seres humanos, do país, do planeta (…) nenhum setor no Brasil faz tão bem para o meio ambiente como o setor sucroenergético”, fazendo alusão ao uso de combustíveis renováveis, como o etanol.
Após a participação de outros deputados e especialistas no setor, com o apontamento de diversas falhas que contribuíram para a crise do setor sucroenergético, e de alternativas para a retomada do seu crescimento, o deputado JHC se comprometeu a reunir as reivindicações e propostas em um documento para ser entregue, na próxima semana, ao governo federal.