Em crise, o setor sucroalcooleiro passou nos últimos anos a buscar alternativas para ampliar seu cardápio de produtos obtidos por meio da cana-de-açúcar.
Com o preço das suas principais commodities –etanol e açúcar– instáveis, a indústria desenvolve projetos para agregar valor à atividade.
O objetivo é, no futuro, obter uma parte significativa da lucratividade com a diversificação de produtos.
O gerente do departamento de biocombustíveis do BNDES, Arthur Milanez, disse que o banco já destinou desde 2012 R$ 3,7 bilhões para financiar pesquisas para novos produtos no setor.
De acordo com Milanez, essa diversificação pode ser uma importante alternativa de renda para as indústrias nos próximos anos.
Um dos exemplos citados é a primeira unidade de produção de etanol celulósico no Brasil. A planta tem capacidade para 40 milhões de litros de etanol por ano e está instalada na cidade de Piracicaba (a 160 km de distância de São Paulo).
O biocombustível de segunda geração é produzido a partir do bagaço, folhas, cascas e outros resíduos da cana-de-açúcar, obtidos durante o processo de fabricação de etanol e açúcar.
O vice-presidente de etanol, açúcar e bioenergia da Raízen, Pedro Mizutani, disse que, se a experiência der certo, o grupo pretende erguer mais sete plantas no país, com investimentos que giram em torno de R$ 2 bilhões, nos próximos oito anos. O investimento em Piracicaba é de R$ 230 milhões.
A expectativa é que, operando com capacidade máxima, as unidades produzam 1 bilhão de litros de etanol. “É uma alternativa importante para o setor”, disse.
Cadeia produtiva
“Pode-se afirmar sem incorrer em erro que, com os processos tecnológicos, tudo poderá ser aproveitado da cana e nada será perdido”, afirmou Jairo Menesis Balbo, diretor industrial da usina São Francisco, de Sertãozinho.
A indústria fornece a cera de bagacilho, que pode ser usada, por exemplo, na produção de velas e na proteção de frutas –a substância cria uma película protetora no fruto que o impede de ser danificado por insetos.
Também se produz a levedura, em parceria com outra usina, a Santo Antonio, também em Sertãozinho. A substância é usada na elaboração de alimentos concentrados destinados à ração animal.
Mas o “carro-chefe” da São Francisco é o etanol e açúcar orgânicos –produzidos sem uso de substâncias químicas.
Eles são destinados para a indústria de alimentos, bebidas e cosméticos, que exigem alto grau de pureza.
Independência
“Se não fossem esses subprodutos, a usina estaria quebrada. A indústria precisa se tornar cada vez menos dependente das tradicionais commodities, que têm muita oscilação de preço”, disse o diretor da usina.
Atualmente, esses subprodutos representam 25% do faturamento da São Francisco.
Representantes do setor sucroalcooleiro dizem passar pela maior crise da história. Nas últimas cinco safras, 44 usinas fecharam, 33 estão em recuperação judicial e ao menos dez não irão moer cana-de-açúcar neste ano.
Fonte: Folha de S. Paulo