A usina de destilação de álcool e cachaça da Agro Comércio e Indústria Bezerra Ltda. (Acinbel) não funcionará este ano. A desativação desta unidade industrial é o sinal vermelho para a agroindústria canavieira do Cariri que entrou em crise, em 2005, com o fechamento da Usina Manoel Costa Filho de Barbalha. O principal motivo da paralisação é a falta de cana. Dos 10 mil hectares plantados na região, restam menos de mil hectares, que produzem 50 mil toneladas do cana, que são distribuídas em cerca de dez engenhos que sobreviveram à crise.
O industrial e administrador de empresa, Rommel Tavares Bezerra, proprietário da Acinbel, destaca que a desativação é um reflexo da crise no setor, com repercussão negativa no mercado de trabalho. A usina, que moeu 12 mil toneladas de cana-de-açúcar no ano passado, oferecia cerca de 250 empregos diretos. Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Crato, Antônio Alves da Gama, é um grande prejuízo para a região.
Os sindicalistas lembram que dos mais de 200 engenhos de açúcar que existiam na região, restam somente dez. Cada um desses engenhos empregava, em média, 60 trabalhadores. A usina de açúcar de Barbalha, que foi criada no ano de 1976, possuía 384 funcionários industriais e 1.100 no campo. Contribuiu com 4% do PIB do Estado na década de 80, produzindo 350 toneladas de açúcar.
Moagem
Nos seus melhores tempos de moagem, no fim da década de 80, chegou a produzir 610 mil sacas de açúcar por mês e uma média de 35 mil litros de álcool por dia. No fim dos anos 90, começaram as primeiras dificuldades financeiras para a usina. Escassez de matéria-prima, crise do álcool, falta de investimentos do Governo Federal e Estadual e preço da saca de açúcar muito inferior ao que realmente deveria ser cobrado.
A usina Brigadeira Industrial de Bebidas Ltda., administrada por Ricardo Biscúcia, tenta manter a tradição da família.
A usina foi implantada em Crato pelo brigadeiro José Sampaio Macedo. A Brigadeira consome oito mil toneladas de cana por ano. Biscúcia, que fabrica exclusivamente cachaça, reconhece que a situação é difícil. “A agroindústria canavieira tem que ser repensada na região”, diz o industrial.
Falta de mercado
A agroindústria canavieira, que durante 300 anos impulsionou a economia regional, parece estar com os dias contados. Os proprietários de engenho reclamam da falta de mercado para a rapadura. As velhas moendas estão virando sucata na bagaceira dos engenhos.
A coordenadora regional do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Ariadne Albuquerque, lamenta o fechamento da Usina da Acinbel, destacando que era uma das mais organizadas, do ponto de vista administrativo, usinas da região do Cariri. “Todos os funcionários, inclusive os que trabalhavam no campo, tinham a Carteira Profissional assinada”, lembrou a representante do IDT.
A maioria das cidades do Cariri nasceu e cresceu na sombra dos engenhos de rapadura, ouvindo o apito da caldeira e sentindo o cheiro gostoso do mel quente. Junto com este saudosismo, floresceu uma aristocracia rural que ainda hoje apresenta resquícios.
Falência
A falência dos engenhos deixou marcas profundas. Da antiga riqueza, prestígio e oportunidades de trabalho do setor, hoje restam pobreza, aroma e saudade. Entre a vida e a morte, os sobreviventes procuram alternativas para continuar atuando. Uma delas é a fabricação de açúcar mascavo, produto orgânico extraído do caldo da cana-de-açúcar, que substitui o açúcar branco e refinado. Outros utilizam o açúcar refinado para a fabricação de rapadura, que é a “desindustrialização”, que contraria a ordem natural da transformação da matéria-prima em produto alimentício de boa qualidade.
Perda
“A usina da Acinbel era uma das mais organizadas, do ponto de vista administrativo, no Cariri”
Ariadne Albuquerque
Coordenadora regional do Sine-IDT
Moagem
12 mil Toneladas de cana-de-açúcar foram moídas, no ano passado, pela usina de destilação de álcool e cachaça da Agro Comércio e Indústria Bezerra Ltda. (Acinbel), do Crato
Antônio Vicelmo
Repórter