Mercado

Crescimento e agricultura

No próximo dia 30 de abril, abre-se um novo Agrishow em clima de otimismo, diante das novas perspectivas de crescimento do setor. Não apenas do setor, mas também da economia nacional em seu todo. O governo promete crescimento para este ano, mas ainda está procurando soluções estruturais de demorada implantação, como a reforma do processo educacional e a alteração do atual sistema tributário. Estas são medidas que demoram a ser aprovadas e só trazem resultados algum tempo depois de implantadas.

Já no caso da agricultura, é diferente. O aumento do plantio de cana já começou, diante da perspectiva de exportação dos combustíveis derivados da cana, como o álcool e o etanol, para não mencionar também o próprio açúcar , que sempre esteve entre os produtos brasileiros de maior penetração no mercado externo. Além da cana, há, no momento, um forte estímulo ao aumento da produção de grãos e também boas perspectivas para o aumento das exportações de carne.

Como para crescer é preciso, antes de tudo, acreditar no crescimento, a agricultura está dando o primeiro impulso. Os agricultores estão otimistas. Se é verdade que os brasileiros são otimistas por temperamento, os agricultores são otimistas por necessidade.

O agricultor é movido pelo pedido que, todos os anos, a natureza lhe faz de torná-la produtiva, e sofre ao ver a terra abandonada ao ócio, como alguém que deplora a falta de fertilidade humana ou a falta de criatividade dos artistas. A terra pede pela ajuda humana para gerar riqueza e o agricultor aprendeu a ouvir o seu chamado. Por isso, sofre quando não tem recursos para financiar sua safra ou quando a perde, num temporal de granizo. Como já disse um conhecido economista, para o agricultor, plantar é um ato sagrado. Deixar de fazê-lo é romper seu compromisso com a natureza e abdicar de sua vocação como ser humano.

Ao menor sinal de que a economia do País vai crescer, os agricultores já estão sendo os primeiros a se pôr a campo. Ir ao campo é sua meta e seu destino. No entanto, pôr-se a campo acreditando mais do que nos anos passados — é sempre melhor.

Nos últimos anos, as esperanças dos agricultores sempre estiveram presentes, mas seus projetos ficaram sempre bem abaixo de suas expectativas porque os preços do mercado externo não corresponderam ou porque as margens dos intermediários no mercado interno se ampliaram.

Nestes últimos anos, os preços dos produtos agrícolas subiram bem menos do que as taxas oficiais da inflação e muito menos do que os preços dos insumos agrícolas.

Mesmo assim, os agricultores brasileiros plantaram cada vez mais, nos últimos anos. As safras cresceram, embora os preços caíssem.

Várias vezes, em período ainda recente, os jornais divulgaram cenas de agricultores desfilando nas cidades, com seus tratores, para protestar, distribuindo gratuitamente ao povo os produtos que, por falta de preço, não conseguiam vender.

Nem sequer foram noticiadas as várias safras que deixaram de ser colhidas — como aconteceu com o setor de frutas e de olerícolas — que ficaram na terra como adubo para plantios subseqüentes.

Também não é preciso lembrar que o setor agrícola pagou o preço da estabilidade da moeda, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, e que continua pagando o preço dessa estabilidade no atual governo. Sem saber o que fazer com a mão-de-obra ociosa no campo, o atual governo continua fechando os olhos para as invasões do MST e fingindo estar procurando solução para os graves problemas agrários relacionados com a distribuição irregular de terras, face à sua inaptidão para a implantação de colônias agrícolas com efetiva capacidade produtiva.

Os problemas da agricultura brasileira são muito antigos. O País sempre foi uma das maiores fontes de alimentos do mundo, por sua extensão territorial, mas continua sendo uma das principais fontes de empobrecimento do solo, com atividades extrativas e predatórias.

Enquanto o Ibama pune um agricultor que corta uma árvore em área próxima às suas vistas, fecha os olhos para os grandes exportadores de madeira que estão devastando a floresta amazônica e fabricando mais um deserto no globo terrestre. Na agricultura — mais do que em qualquer outro setor da vida econômica — vive-se o áspero contraste entre o “Brasil legal” e o “Brasil real”, de que falavam os grandes intérpretes da cultura nacional.

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mais do que de financiamentos e de legislações flexíveis, precisa de um impulso de otimismo. Para dar certo, o governo precisa infundir confiança no setor produtivo e dinamismo naqueles de quem depende o aumento da riqueza nacional.

O crescimento econômico não depende só do setor financeiro — que tem sido o maior beneficiário da atual política de estagnação da economia. Também não depende do comércio, cuja atividade fica sempre decorrente do crescimento nas duas pontas: o poder aquisitivo do consumidor e o poder criativo do produtor.

O crescimento depende da confiança daqueles que, no passado, fizeram a economia crescer, como aconteceu no ciclo do açúcar, no ciclo do cacau, no ciclo do café , no ciclo da borracha e nos mais recentes ciclos da laranja e da soja.

O crescimento também depende do otimismo dos que comandam os órgãos de estímulo à produção. Neste ponto, pode-se dizer que o governo vai bem porque acaba de designar, para o comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um economista com visão desenvolvimentista. Não é de hoje que ele clama por uma política de crescimento. Luciano Coutinho tem uma longa história de combate à estagnação. Não é daqueles economistas que acreditam nas forças naturais do mercado. Sabe que o crescimento supõe decisão e compromisso na relação entre o poder público e setor produtivo. Sua presença no atual governo representa mais um motivo de otimismo: traz um sinal positivo de que o crescimento da economia brasileira, em 2007, será possível.