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Cresce produção de veículo bicombustível

A tecnologia de motorização bicombustível chegou para ficar. Além de modificar o perfil da produção brasileira de automóveis, promete resgatar a confiança do motorista no álcool combustível, ao oferecer a opção de uso da gasolina no mesmo veículo.

Desde que foram lançados, a partir de março de 2003, os modelos bicombustíveis, também chamados de “flex fuel”, ganharam a simpatia dos usuários. Em 2003, a participação dos veículos bicombustíveis no total das vendas no mercado interno atingiu 4%. Os carros apenas movidos a álcool ficaram com 3%. Em janeiro deste ano, os “flex fuel” atingiram 14,4% do mercado.

“A tendência é o bicombustível substituir totalmente os monocombustíveis”, diz Paulo Sérgio Kakinoff, diretor de Vendas e Marketing da Volkswagen , primeira montadora a lançar um modelo bicombustível, o Gol Total Flex, em março de 2003. A montadora já conta com quatro modelos bicombustíveis – Gol, Parati, Saveiro e Fox – e está lançando mais dois, o Polo e o Golf.

O plano é estender a motorização Total Flex para toda a linha de automóveis. “Daqui a dois ou três anos não teremos mais monocombustíveis”, diz Kakinoff. Para ele, o bicombustível não é apenas alternativa de motorização, mas uma forma de o país ganhar autonomia em relação à matriz energética.

O usuário pode optar pelo combustível que tiver melhor preço. Com a tecnologia dominada, a motorização bicombustível garante o mesmo desempenho dos motores, com custo igual ao dos monocombustíveis. “O preço entre os dois tipos de motorização é equalizado gradualmente, na medida em que a escala de produção amortiza o investimento feito para o desenvolvimento das adaptações para cada família de motores”, diz Kakinoff.

Além da Volks, a GM e a Fiat também oferecem modelos bicombustíveis. São três modelos da GM, com sistema eletrônico MultiFuel – Corsa Sedã 1.8 Flexpower, Montana e Meriva -, e um da Fiat, o Palio Fire Flex. A Ford também deverá lançar modelos ainda neste ano, apesar de ainda não haver data definida.

O estímulo à produção de veículos bicombustíveis começou em agosto de 2002, quando o governo brasileiro decidiu estender para a motorização bicombustível o benefício tributário existente para a produção de veículos a álcool. A redução de dois pontos percentuais na taxação do IPI passou a valer tanto para o carro a álcool como para o veículo bicombustível.

“A medida foi um estímulo para a indústria investir na produção dos bicombustíveis. A tecnologia já estava nas pranchetas dos engenheiros há quase uma década”, diz Reinaldo Palma, supervisor de gerenciamento de projetos da Delphi, empresa responsável pelo desenvolvimento do sistema eletrônico para a GM. A tecnologia permite o funcionamento do motor com os dois combustíveis em qualquer proporção, além de rodar com 100% álcool ou gasolina, sem perder em desempenho e economia.

Além da economia e das outras vantagens da flexibilidade, o veículo bicombustível também favorece a proteção do meio ambiente. “A mistura em qualquer proporção atenua os efeitos dos poluentes emitidos pela queima da gasolina”, explica Manoel Paulo de Toledo, gerente da Divisão de Engenharia e Certificação da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb).

Desde 1979, a gasolina agrega álcool etanol, em proporções que variaram, ao longo dos anos, de 22% a 24%, índice atual. Os testes efetuados na Cetesb, segundo Toledo, indicam que as emissões dos veículos bicombustíveis são compatíveis com os níveis exigidos pelo atual estágio do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), criado em 1986. Os ensaios são feitos com motores que utilizam todas as variações de mistura.

A tecnologia do bicombustível se resume a um sistema capaz de “ler” o tipo de combustível colocado à disposição para a combustão e promover a calibração da quantidade de combustível e o tempo certo de ignição, para que a queima seja feita dentro dos parâmetros técnicos desejados.

Esse sistema de leitura e calibração automática é eletrônico, instalado na central inteligente dos sistemas de injeção. As peças do sistema de injeção – bomba injetora, válvulas, conectores e câmara de combustão – também passam por alterações, especialmente tratamentos químicos de proteção ao ataque do álcool combustível.

“Os parâmetros para as modificações dos motores para bicombustível são os do álcool, cujas características são mais agressivas aos motores”, diz Palma. A taxa de compressão utilizada também é mais próxima à do álcool, porque ele exige maiores temperaturas para a combustão.