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Cresce interesse das esmagadoras no biodiesel

São Paulo, Os tratores que circulam pelos canaviais da Usina Catanduva, em Ariranha (SP), são exatamente como as milhares de máquinas que preparam a terra pelo interior do País, com uma pequena diferença: eles estão entre os primeiros do País a serem movidos com uma mistura do diesel com o biodiesel de soja ou de mamona.

Decidimos testar o biocombustível. Dependendo do resultado, poderemos construir uma planta de biodiesel para abastecer nossos tratores e para vender a terceiros, Gilberto Azevedo Koike, superintendente de manutenção da usina.

Grandes empresas do setor, como a ABC Inco Indústria e Comércio, ADM Brasil Ltda, Bunge Alimentos SA e Coamo Agroindustrial Cooperativa tem interesse em produzir biodiesel no Brasil, mas aguardam a redefinição do sistema de cobrança tributária, que atualmente isenta 100% do PIS-Cofins apenas para biodiesel de óleo de palma e mamona da agricultura familiar das regiões Norte e Nordeste, diz o presidente da comissão de biodiesel da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Juan Diego Ferrés.

Há consenso no setor de que dificilmente a produção isolada de mamona será suficiente para atender à demanda de biodiesel a partir de 2008, quando será obrigatório misturar 2% ao diesel comum, o que geraria uma demanda de 1 bilhão de litros de biodiesel por ano.

Neste contexto, cresceu o interesse das grandes esmagadoras de soja em entrar no segmento. O setor tem uma capacidade ociosa de 10 milhões de toneladas/ano, diz. As empresas poderiam utilizar essa capacidade para produzir elas mesmas o combustível, ou então vender o óleo para refinadoras.

A Caramuru Alimentos diz estar pronta para entrar no segmento, informa seu vice-presidente, César Borges de Souza.Investiremos no setor, desde que haja segurança na legislação que prevê a mistura obrigatória de biodiesel no diesel a partir de 2008, . Estamos realizando estudos de viabilidade para implantação de fábrica, mas ainda não temos uma proposta formal. O executivo diz que, conforme estudos preliminares, a fábrica pode ser construída em São Simão (GO), com capacidade próxima a 110 milhões de litros por ano. Ferrés, que também é sócio-diretor da Granol, conta que a empresa começará a produzir biodiesel em janeiro para entregar os 18,3 milhões de litros vendidos pela empresa à Petrobras no leilão realizado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). O biocombustível será produzido em Campinas (SP), em instalação da Ceralit SA Indústria e Comércio, da área química, com capacidade de 50 milhões de litros/ano. A Granol está avaliando local no interior de São Paulo para produção própria de biocombustível, mas aguarda a isenção da tributação para dar início à escolha: é consenso no setor que a produção de biodiesel não é competitiva sem isenção tributária.A fábrica terá capacidade de 100 milhões de litros por ano e ficará próxima de uma de nossas unidades no interior, situadas em Oswaldo Cruz e Bebedouro, afirma. Para a nova planta, estão previstos investimentos de US$ 40 milhões.

A Granol também pleitea financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção de planta de biodiesel em Anápolis (GO) e Cachoeira do Sul (RS), que deverão começar a operar em 2007, com capacidade de 60 milhões de litros/cada. A Granol tem capacidade instalada para esmagar 2 milhões de toneladas de grão por ano, mas opera com metade do volume.

O diretor administrativo e financeiro da Selecta, Hugo Alexandre S. Braga, diz que a empresa foi procurada por corporação internacional dos ramos financeiro e de energia, interessada em produzir biodiesel no Brasil. A Selecta seria responsável pela produção de óleo para abastecer a unidade, mas a empresa ainda não decidiu se vai ingressar no segmento.

Test drive

O test drive da Usina Catanduva é feito com três tratores, nos quais foi misturado, respectivamente, 5% de biodiesel de soja, 5% de mamona e 20% de soja. O biodiesel é fornecido pela Universidade de São Paulo.

O rendimento das máquinas está sendo comparado com o de um trator testemunha, abastecido com diesel puro. Em média, os tratores avaliados têm o mesmo rendimento dos movidos a diesel puro, diz Gilberto Koike, superintendente de manutenção da usina.