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Cresce colheita mecanizada de cana

Alto custo da mão-de-obra e questões ambientais estimulam usinas a investir em colheitadeiras. Questões ambientais, alto custo da mão-de-obra rural, problemas trabalhistas e a busca por redução de custos estão levando a um novo “boom” nas vendas de equipamentos de mecanização da cultura canavieira. Segundo os fabricantes de máquinas, as usinas deverão receber neste ano algo próximo de 140 novas colheitadeiras de cana, o que representará o dobro das vendas faturadas em 2004.

“A tendência é que as novas usinas já iniciem as atividades totalmente mecanizadas, do plantio à colheita”, diz João Fernando Tavares, integrante do Grupo de Motomecanização do Setor Sucroalcooleiro. Os investimentos concentram-se no oeste paulista, onde surge a maioria das novas empresas sucroalcooleiras.

“As vendas de colheitadeiras deverão aumentar ainda mais, porque o plantio mecanizado é a ‘bola da vez’ do setor sucroalcooleiro”, afirma Arnaldo Ribeiro Pinto, superintendente da Santal Equipamentos S.A. Comércio e Indústria, de Ribeirão Preto, única fabricante nacional de colheitadeiras de cana.

A Santal, que produziu a primeira colheitadeira de cana no Brasil em 1972, acaba de lançar uma máquina com três eixos. Assim, depois de alguns anos fora desse segmento, prepara-se para voltar a disputar o mercado com as multinacionais CNH (marca Case), com fábrica em Piracicaba (SP), e John Deere (marca Cameco), com fábrica em Catalão (GO). A empresa nacional tem como carro-chefe os carregadores de cana e veículos de transbordo, equipamentos que compõem uma frente de corte mecanizado de cana, mas também aposta suas fichas numa nova plantadeira de cana picada.

“O momento agora é de plantio, e as usinas têm demonstrado grande entusiasmo em mecanizar esse processo”, comenta Eduardo Cunali, diretor da divisão de cana da John Deere. “Não consegui gente para fazer o plantio de ‘cana de ano’ em 2004”, afirma Fernando Luiz Quagliato Filho, diretor agrícola da Usina São Luiz S.A., de Ourinhos (SP), próxima da divisa com o Paraná. “Por isso, além do corte mecanizado, estamos partindo para a implantação do plantio mecanizado”, diz.

Segundo Quagliato, o corte manual na região custa R$ 6,00 por tonelada, um terço mais caro do que o corte mecanizado, avaliado em R$ 4,50 por tonelada. Com as colheitadeiras, que substituem 80 homens, as usinas também evitam os conhecidos custos com os trabalhadores rurais: contratos temporários, alojamento, transporte, saúde, alimentação, equipamentos de proteção e eventualmente despesas judiciais trabalhistas.

As usinas também têm de cumprir, em São Paulo, a legislação ambiental, que limita gradativamente a queima dos canaviais. Em 2006, de acordo com a lei, 30% das áreas mecanizáveis (com declividade inferior a 12%) não poderão ser queimadas. A lei paulista prevê a eliminação de 100% das queimadas em áreas mecanizáveis em 2021, e proibição total das queimadas, mesmo em áreas não-mecanizáveis, em 2031.

O Grupo de Motomecanização do Setor Canavieiro é formado por engenheiros de 50 usinas. Eles se reúnem mensalmente, há 18 anos. A última reunião ocorreu na semana passada, em Ribeirão Preto, na sede da Santal. “Há uma fila de fornecedores querendo participar das reuniões, de fabricantes de mangueiras a montadoras de caminhões”, diz Tavares. Ele é diretor agrícola da Coinbra, controlada pelo grupo Louis Dreyfus, que tem três usinas no País: a São Carlos, na cidade paulista de mesmo nome, a Cresciumal, em Leme (SP), e a Luciânia, em Lagoa da Prata (MG).

A colheita mecanizada da cana surgiu nos anos 70, mas ganhou força a partir de 1995, quando as máquinas tornaram-se mais eficientes.

Colheitadeiras, plantadeiras, tratores, implementos agrícolas, caminhões e carretas de transbordo de cana são apenas o último componente do processo de mecanização da cultura canavieira. Primeiro, é necessário redesenhar os talhões, sistematizar o solo e plantar variedades de cana adequadas à colheita realizada por máquinas.

Uma frente de corte mecanizado pode envolver meia dúzia de colheitadeiras, uma dúzia de tratores, 25 veículos de transbordo de cana além de dezenas de cavalos mecânicos, caminhões pesados, reboques e semi-reboques para o transporte da cana, que operam 24 horas por dia durante a safra.

Apesar dos investimentos pesados, a colheita mecanizada aumentou mais do que a produção de cana nos últimos anos. Segundo Cristhian Gonzáles, diretor de marketing da CNH do Brasil, há 1,2 mil colheitadeiras de cana em operação no País, com média de 80 mil toneladas colhidas por máquina anualmente. Da frota total, segundo Gonzáles, apenas 150 operam fora de São Paulo.

Nos últimos cinco anos, o índice de mecanização da colheita subiu de 20% para 25% no País. Isso significa que, apenas neste ano, perto de 100 milhões de toneladas de cana serão colhidas por meio de máquinas. No estado de São Paulo, que representa quase um terço da produção nacional, o índice de mecanização saltou de 25% para 35% nos últimos cinco anos.