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Cresce a utilização de fontes alternativas

Empreendimentos de geração energética a partir de fontes alternativas e renováveis estão, aos poucos, deixando a prancheta de estudos para se tornar realidade em várias regiões do país. Ainda que em pequena escala e, naturalmente, com pouca relevância para a composição da matriz energética brasileira, projetos de energia solar, eólica, biomassa e biogás começam a demonstrar sua compatibilidade entre a expansão de oferta de energia e preservação do meio ambiente.

A Solarium Revestimentos, de São Bernardo do Campo, no ABC paulista é um bom exemplo. Aplicou princípios de sustentabilidade na nova fábrica, com 5 mil metros quadrados, inaugurada no início do ano. As matérias-p! rimas são de origem reciclável, a água da chuva é coletada e armazenada para utilização industrial e depois reaproveitada. Nesse processo sustentável, a fabricante de revestimentos artesanais utiliza energia solar para abastecer suas câmaras de cura.

“Já que não utilizamos fornos em nosso processo produtivo, precisamos das câmaras de cura, que dependem de vapor úmido, para a produção do revestimento. A melhor opção foi utilizar a energia solar para o abastecimento das câmaras”, explica a arquiteta Ana Cristina de Souza, presidente da Solarium.

Além de gerar benefícios ambientais, o uso de painéis solares para o autoabastecimento compensou o investimento feito, até mesmo para um nível baixo de consumo de energia, como é o caso da empresa. “Não entendo por que o uso da energia solar não é mais disseminado. Fizemos um investimento de menos de R$ 30 mil, que gerou bom retorno”, afirma Ana Cristina, referindo-se ao alívio na fatura mensal de eletricidade. O modelo será reproduzido nas outras fábricas da Solarium, em Brasília, Porto Alegre e Recife.

Outro exemplo de utilização de fontes renováveis pode ser comprovado no Oeste do Paraná. Desde fevereiro, a Companhia Paranaense de Energia (Copel) firmou contratos com suinocultores para aquisição de eletricidade produzida a partir de biogás, energético resultante da biodigestão de dejetos orgânicos dos animais. Ao todo, foram contratados de seis produtores 524 kWh, para fornecimento por um período de 42 meses, o que representa energia suficiente para abastecer cerca de 100 residências.

De acordo com o diretor de Engenharia da Copel, Luiz Antonio Rossafa, o projeto foi desenvolvido em parceria com Itaipu Binacional. Uma solução relativamente simples garantiu a transferência de energia dos suinocultores para a rede da Copel. Foram tomadas medidas de segurança em todos os sistemas, tanto da Copel como dos produtores, e instalados equipamentos de medição em cada propriedade, para verificar a entrada e a saída de energia. “O projeto foi bem-sucedido”, afirma o executivo.

Mais do que trazer algum ganho econômico ou de acréscimo de energia para a Copel, Rossafa afirma que a importância do empreendimento está nos benefícios sociais e ambientais. “Os produtores elevam sua renda com a venda de energia e poderão, no futuro, também comercializar créditos de carbono, ao eliminarem o gás metano, de efeito estufa, gerado pelos dejetos dos animais”, explica.

Indicada por especialistas como uma das melhores opções para geração de eletricidade sem provocar grandes impactos ao meio ambiente, a energia eólica começa a ser vista como uma opção até mesmo para autoabastecimento. Um projeto da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) pretende construir um parque eólico com capacidade de 10 megawatts (MW) dentro da Estação de Tratamento Gavião, na periferia de Fortaleza. Valendo-se da força dos ventos da região, a empresa estuda instalar quatro aerogeradores de 100! metros de diâmetro, suficientes para abastecer 20% da energia consumida pela Cagece.

“Esse projeto nasceu como uma ação sustentável e hoje já se mostra viável economicamente”, informa o gerente de controle de perdas e eficiência energética da concessionária, Luiz Celso Braga Pinto. A empresa prepara, nesse momento, estudos de regularidade dos ventos e projeta o início da operação do parque eólico em 2012.

Dentre as possibilidades de geração de energias por fontes alternativas, a queima de biomassa, sobretudo do bagaço da cana-de-açúcar, é a mais disseminada. Praticamente todas as usinas do setor sucroalcooleiro utilizam a cogeração para a produção de vapor e eletricidade usados no processo de fabricação de açúcar e etanol. Estimativas feitas pelo setor indicam que a capacidade instalada para geração de energia está atualmente em 5,5 mil megawatts (MW), sendo 4 mil MW para autoabastecimento e 1,5 mil para forneciment! o ao mercado.

A Açúcar Guarani é uma das usinas que têm na comercialização de eletricidade uma de suas fontes de receita. Com cinco unidades e processamento de 14,4 milhões de toneladas de cana na última safra, a empresa detém capacidade instalada de 95 megawatts (MW) e comercializa cerca de 23 MWh no mercado livre. “Além do aproveitamento, a vantagem está na comercialização dos excedentes produzidos e na geração de energia a partir do bagaço de cana, uma fonte limpa e renovável”, sustenta o responsável pela cogeração de energia da Guarani, Fábio Pelegrini.

Na opinião do coordenador de pesquisa e desenvolvimento do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Suleiman Hassuani, o uso da geração térmica a partir do bagaço de cana tem espaço para avançar ainda mais no país, caso o setor receba mais estímulos do governo. “Se mais coletores para conexão às redes forem instalados próximos às usinas e houver incentivos fiscais, de financiamentos e adequação de tarifas, mais usi! nas poderão investir para ampliar a oferta de energia”, pondera.