De acordo com informações da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercados Agropecuários — Ceema, as cotações futuras da soja na Bolsa de Chicago tiveram uma semana marcada por quedas consecutivas. Apesar de ter esboçado uma recuperação na terça-feira, 16 de agosto, atribuída como recuperação técnica, o restante da semana passada foi de quedas. Na prática, o mercado encontra dificuldades para adotar um direcionamento, especialmente diante do comportamento favorável do clima, com a ocorrência de chuvas nas regiões produtoras, nos Estados Unidos, o que leva os especuladores a realizarem vendas, deflagrando quedas constantes em todo o complexo soja. Em comparação com o fechamento da semana retrasada, pode-se dizer que o mercado despencou, voltando a ser cotado abaixo dos US$ 6,00/bushel. O fechamento efetivo na sexta-feira, 19 de agosto, ficou em US$ 5,97/bushel. O farelo fechou em US$ 186,80/tonelada curta e o óleo a 22,28 centavos de dólar por libra-peso. No caso do grão, tais preços não eram vistos desde 25/02/05.
Se pelo lado fundamental não existem notícias capazes de puxar as cotações para cima, analistas grafistas indicam que o mercado poderá reagir, mesmo diante do bom comportamento climático, favorável às lavouras. Esta reação seria conjuntural, em cima de ajustes técnicos após o recuo considerável das cotações durante esta última semana. O USDA divulgou o relatório das condições das lavouras até o 14 de agosto. O percentual de lavouras, com estado entre bom e excelente, ficou em 51%, enquanto 30% das lavouras estão em estado regular. Permaneceu em 19% o percentual de lavouras em condições ruins e muito ruins.
No mercado europeu, no CIF Rotterdam, os preços apresentaram recuo. Apesar disso, os negócios foram reduzidos. Com o pellets da Argentina os negócios ficaram em US$ 217,50/tonelada para setembro.
Na prática, se confirma uma tendência alertada anteriormente. Os preços em Chicago têm espaço para cair, caso o clima nos EUA continue a permanecer positivo. Este recuo pode ser largamente compensado no mercado interno brasileiro caso o real volte a uma paridade mais razoável em relação ao dólar estadunidense. Ou seja, os preços internos no Brasil tendem até a melhorar caso haja uma desvalorização mais sustentável do real.
No mercado brasileiro do farelo, o FOB interior de São Paulo permaneceu em R$ 495,00/tonelada à vista, enquanto os negócios realizados no norte do Paraná registraram R$ 495,00/tonelada. No Rio Grande do Sul, os preços do hipro recuaram para R$ 540,00/tonelada, no interior, para pagamento em 30 dias. Em Goiás, a cotação do produto se elevou, neste encerramento de semana, para R$ 480,00/tonelada à vista, com 8,4% de ICMS. No mercado do óleo, o CIF indústrias paulistas, com 7% de ICMS, elevou-se para R$ 1.160,00/tonelada, na compra. No Rio Grande do Sul, o CIF Grande Porto Alegre elevou-se para R$ 1.160,00/tonelada, com 7% de ICMS e pagamento à vista.
O levantamento de safra, feito pela empresa Safras & Mercado, referente a produção brasileira de cereais e oleaginosas, para 2006, tomando por base os dados de intenção de plantio, projeta uma produção de 128,89 milhões de toneladas (13,6% acima do volume produzido no ano de 2005). Esta produção deverá ser resultado de uma área plantada de 46,74 milhões de hectares, a qual, se concretizada, deverá ser 0,18% inferior à área colhida na safra 2005. Entre os principais fatores da queda na área, Safras & Mercado indica a falta de motivação dos produtores, sobretudo em relação aos preços médios obtidos no ano de 2005 que, em alguns casos, foram menores do que os observados em 2004. Além disso, deve-se destacar também a redução no nível tecnológico empregado nas lavouras.
Especialmente no caso das oleaginosas, o levantamento da Safras sinaliza um incremento na produção, principalmente porque espera-se que nesta próxima safra não haja problemas climáticos (como os ocorridos neste ano de 2005). Diante disso, as primeiras estimativas indicam um volume total de 65,68 milhões de toneladas (24,5% acima das 52,77 milhões de toneladas em 2005). Para a cultura da soja, o levantamento indica um volume de 63,37 milhões de toneladas, ou seja, 25,6% a mais do que o volume produzido na atual safra, que foi de 50,44 milhões de toneladas.
As notícias vindas do Centro-Oeste informam que o Mato Grosso poderá registrar queda de R$ 1 bilhão na sua arrecadação caso se confirme a redução da área plantada de soja entre 10% e 15% na safra 2005/06, segundo declarações do presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado – Aprosoja.
A semana terminou com a expectativa de novamente o clima ser positivo para as lavouras de soja nos EUA, para os últimos 10 dias de agosto. Isto poderá levar a uma revisão para cima nas projeções de produtividade e produção da oleaginosa naquele país, fator que será baixista em Chicago. Não se pode esquecer que o USDA avança um preço, no seu patamar mínimo, de até US$ 5,00/bushel para 2005/06.
Diante deste contexto, em não havendo reestruturação cambial no Brasil para 2006 (hoje o câmbio brasileiro, para manter sua paridade de poder de compra de maio de 2002, deveria estar valendo pelo menos R$ 3,05), e diante de uma safra cheia no próximo verão, os preços da soja podem muito bem cair para níveis inferiores a R$ 25,00/saco no balcão e R$ 30,00/saco nos lotes.