Investimentos na produção de etanol e na prospecção do petróleo podem derrubar cotações. A concentração dos investimentos na produção de álcool garante o atendimento da demanda do combustível, mas pode contribuir para uma sensível queda dos preços do petróleo a médio prazo. O prognóstico foi feito ontem pelo consultor Michael MacDougal, da Fimat, que recomenda uma maior reflexão sobre o comportamento do mercado no médio e longo prazo. Por isso, a convicção de que os preços do álcool e do açúcar vão permanecer elevados pelos próximos dez anos merece ser questionada. “Só na Europa estão sendo construídas 40 novas usinas de biodiesel”, advertiu.
MacDougal lembra que os investimentos não se limitam à produção de álcool e biodiesel. Também está sendo aplicada elevada parcela dos recursos na prospecção, produção e refino de petróleo, o que deve contribuir também para a queda da cotação do álcool.
O diretor do Departamento de Álcool e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Ângelo Bressan, lembra que o preço do petróleo é parâmetro para o preço do álcool. É teto para as cotações.
Preços domésticos
O preço do álcool nas usinas deverá chegar a R$ 0,70 o litro em junho, quando a moagem da cana deverá estar a plena carga e o mercado abastecido, segundo previsão feita ontem por Bressan. A queda no preço deverá ocorrer mesmo com a manutenção do ritmo das exportações de álcool já contratadas. Bressan se refere às vendas externas de álcool negociadas mediante contrato. “O Brasil é um País onde rege a livre economia de mercado e por isso, não quebra contratos. O que já está contratado vai ser embarcado”.
Bressan garantiu que não há retenção de guias de exportação para álcool vendido mediante contrato. Isso, porém, pode estar ocorrendo para as vendas pelo mercado “spot”, segundo declaração de alguns exportadores. Não existe tampouco conflito com a Agência Nacional do Petróleo (ANP) em relação ao tratamento a ser dado ao álcool combustível. Para Bressan, álcool hidratado não pode ser tratado como combustível, uma vez que boa parte do seu destino é a indústria química, farmacêutica e de cosmético. “A lei dá prerrogativa à ANP para controlar os combustíveis, o que inclui o álcool anidro”´. Essa legislação, porém, é vaga porque não alcança o hidratado, embora também seja utilizado nos veículos movidos a álcool ou flexíveis, disse.
O diretor da Câmara do Açúcar e do Álcool, Luiz Carlos Correa Carvalho, afirma que a o preço alto do petróleo é fator indispensável de estimulo aos investimentos na produção de formas alternativas de combustível. Ao contrário de MacDougal, Carvalho acredita na demanda firme pelos combustíveis a médio e longo prazo. “Quanto mais cresce o PIB mais cresce a demanda por petróleo”.