Mercado

Cota de exportação de carne e açúcar anima bastidor da diplomacia

Em público, lamentando. Nos bastidores, satisfeitos. Ao que parece, é assim como tem se comportado os diplomatas brasileiros, após receberem indicações de que a conclusão da Rodada Doha abrirá cotas para as exportações de açúcar e carne bovina. Nesta segunda-feira (26), a Organização Mundial do Comércio (OMC) se reuniu pela primeira vez desde que o rascunho de um acordo final foi apresentado na semana passada. O Itamaraty deixou claro que está pronto para utilizar o texto como base e indicou preocupações em alguns aspectos do acordo, como a abertura de mercados e a redução de subsídios.

Mas nos bastidores recebeu indicações de que as novas cotas para a exportação do açúcar chegariam a 600 mil toneladas no mercado europeu. Hoje, a cota brasileira não passa de 25 mil toneladas e, na avaliação do Itamaraty, mesmo que o Brasil não ocupe toda a cota, ficará com grande parcela desse novo espaço aberto no mercado europeu. Até hoje, o melhor que o País havia atingido era o compromisso dos europeus de importar 1 milhão de toneladas de etanol dentro do acordo entre a UE e o Mercosul.

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No setor de carne bovina, o Brasil passaria de uma cota de apenas 5 mil toneladas para mais de 200 mil. As vendas dentro da cota são beneficiadas de tarifas de importação reduzidas, tanto no mercado de açúcar como no de carnes. Mesmo assim, o governo brasileiro insistiu hoje que um acordo precisará garantir um corte significativo de subsídios para que seja aceito.

Para o embaixador do Brasil na OMC, Clodoaldo Hugueney, a crise no setor de alimentos no mundo obriga os países a acelerar uma conclusão da Rodada que permita a redução de distorções nos mercados. “A Rodada precisa ajudar a providenciar uma solução efetiva e de longo prazo à situação atual”, afirmou o diplomata. “Os preços atuais de alimentos vão exigir cortes significativos dos níveis de subsídios”, disse Hugueney, apontando que os responsáveis por isso seriam os países ricos. “Eles (países desenvolvidos) precisam demonstrar que estão preparados para fazer uma contribuição para o sucesso das negociações”, afirmou.

Já a União Européia (UE) apela para que um acordo seja atingido de forma urgente, alegando que não tem mais o que oferecer e nem concessões a fazer. Hugueney criticou a falta de compromisso demonstrado pelos americanos. “Apenas deram declarações vagas de que estão dispostos a negociar”, atacou.

Para muitos diplomatas, é exatamente a falta de um sinal político mais claro dos Estados Unidos que impede um avanço nas negociações. Washington, em plena época de eleições, preferiu apenas criticar a falta de acesso aos mercados dos países emergentes, como Índia, Tailândia e Indonésia nas negociações.

Nesta terça-feira será a vez de o Brasil, o restante do Mercosul e vários países emergentes alertar que não têm como cumprir as exigências de cortes de tarifas para bens industriais como pedem os países ricos. “Não há nem como pensar em oferecer a liberalização que nos pedem”, afirmou um diplomata argentino.

Futebol e política

Por enquanto, não há uma definição se ministros se reunirão em junho para tentar fechar um acordo. O chanceler Celso Amorim estará no início do mês em Paris para a reunião anual da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o tema da OMC não deve ficar de fora.

O governo suíço ainda convidou Amorim a assistir um dos jogos da Eurocopa, que será disputada no país alpino. O governo suíço quer aproveitar o terceiro maior evento esportivo do mundo para atrair ministros de vários países para reuniões sobre economia e política.