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Cosan terá mais poder em investimento e dividendo

Diniz: se existia o risco Ometto, após a operação passou a ser prêmio Ometto

Desde 25 de junho, quando a Cosan anunciou a criação da Cosan Limited, as ações ordinárias (ON, com voto) da empresa já negociadas no pregão caíram 26,29%, enquanto os papéis de outras sucroalcooleiras tiveram um desempenho melhor. Para o diretor de Relações com Investidores da Cosan, Paulo Diniz, isso ocorreu principalmente pelo temor que o investidor tinha de que a operação não saísse. Prova disso, seria a alta de 8,90% registrada pela Cosan ON desde 16 de agosto, quando a Cosan Limited estreou na Bolsa de Nova York e os seus Brazilian Depositary Receipts (BDRs, recibo das ações americanas) no Brasil. Coincidência ou não, este dia foi o pior momento da crise hipotecária americana e, desde então, o mercado todo melhorou. O Índice Bovespa, por exemplo, já subiu 26,82%, três vezes mais que os papéis da empresa. A reorganização societária criou um tipo de ação poderosa ao controlador Rubens Ometto, em que cada ação dá direito a dez votos.

Diniz avalia que a decisão de estender o tipo de ação do controlador a todos os acionistas mudou pouco a imagem da operação, considerada por ele pioneira desde o início. Ele evita fazer qualquer tipo de estimativa sobre o nível de migração dos acionistas da Cosan S.A., listada na Bovespa, para a Cosan Limited, com sede em Bermudas. Lembra, porém, que por estar em um paraíso fiscal, portanto, livre da tributação brasileira, a Limited terá condições de canalizar o que pagaria de imposto para uma distribuição de dividendos maior. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Diniz, ao Valor, antes de a empresa entrar em período de silêncio.

Valor: Se a operação da Cosan é boa, por que as ações caem?

Paulo Diniz: Tem uma série de fatores que impactaram a ação, além do anúncio de reorganização societária. O preço médio do açúcar no primeiro trimestre ficou 46% abaixo do de 2006. O Ethanol Index – composto pelas ações de empresas do setor -, no ano, até 16 de agosto, data da definição de preço da nossa oferta, havia caído 45,3%. O segundo fator é a venda de uma vez só, em 4 de junho, dos 6,2% que a Tereos tinha na Cosan. Outro ponto importante foi em 25 de junho, quando anunciamos a reorganização e, a partir disso, entramos em período de silêncio. O mercado só lia o famoso dez para um (uma ação do controlador correspondendo a dez votos). O mercado ignorou que em assuntos que dizem respeito à proteção dos minoritários, essa relação de voto não existe, é apenas de um para um. Estudos também revelam que sempre que uma empresa faz uma segunda operação, há uma queda de preços, em média, de 12% no papel. Além disso, a definição do preço foi em 16 de agosto, quando o Ibovespa chegou a cair 9% por causa da crise do “subprime”.

Valor: Se o setor está ruim, por que as ações das outras sucroalcooleiras estão melhores?

Diniz: Esses papéis também estão sofrendo. A São Martinho, que estreou na bolsa em 12 de fevereiro, o pico dela foi em 21 de fevereiro, a R$ 31,83 e, desde então, caiu 34,51%. Já a Guarani, desde o seu pico, em 7 de agosto, a R$ 13,92, caiu 20,98%. Os fatores negativos pegaram o setor como um todo.

Valor: Só que as ações da Cosan sofrem mais. Desde 25 de junho, quando a empresa anunciou a operação, os papéis caem 26,29% e os da São Martinho caem só 2,45%.

Diniz: Fomos os mais prejudicados porque o período de silêncio vai contra a própria empresa, uma vez que as explicações sobre a operação não podem ser dadas e o mercado deduz o que quer. Tivemos relatórios de alguns analistas de bancos sendo muito críticos com a operação, colocando em dúvida até se ela sairia. Isso provocou mais dúvida e, diante disso, o investidor vendeu as ações e foi para um porto mais seguro. Mas tem a outra parte desse gráfico. Desde a operação da Cosan Limited, em 16 de agosto, até o fim de setembro, o Ethanol Index se valorizou 1% e as ações da São Martinho e da Guarani cerca de 8%. Já o BDR da Cosan Limited subiu 23%. A partir do momento em que a operação ocorreu, o investidor mudou de postura, viu que a empresa tem mais R$ 1,2 bilhão para poder crescer.

Valor: Então o investidor vendeu as ações mais por insegurança ?

Diniz: Sim. Do contrário, as ações não subiriam depois da oferta da Cosan Limited.

Valor: Em que medida estender o direito de uma ação com dez votos para o minoritário fez o papel se recuperar?

Diniz: Para nós, seria mais simples se não déssemos o direito de migração dos acionistas da Cosan S.A. para a Limited. Mas, para chegarmos onde queremos, teremos de acessar o mercado, via dívida ou ações. E, para isso, dois pontos são importantes: transparência e parceria com o mercado. Nada mais justo oferecer ao acionista a opção de migrar dando a chance de ele ter a mesma ação do controlador.

Valor: Qual o senhor acha que será o nível de migração para o BDR?

Diniz: Para nós da Cosan, o importante é passar os pontos positivos e negativos das duas opções. E, resumindo, o acionista da Cosan Limited terá todos os benefícios do acionista da Cosan S.A. Mas o inverso não é verdadeiro. A Limited tem um poder de alavancagem via emissões quase que ilimitado e uma estrutura fiscal importante. Por estar nas Bermudas, em vez de pagarmos imposto de renda de 34%, esse IR se reverte na forma de dividendos. Em 2006, pagamos mais de R$ 70 milhões de IR, que poderia ser distribuído como dividendos. Além disso, a Limited terá uma governança ainda maior, já que estará na Bolsa de Nova York, seguindo as regras da Sarbanes-Oxley.

Valor: Qual deve ser o nível de migração para o BDR que corresponde uma ação com dez votos?

Diniz: Acho que pouca gente vai optar por essa modalidade. A maioria que migrar deve optar pela ação tipo A (uma ação dá direito a um voto). O minoritário não quer dirigir uma empresa, ele quer investir numa empresa que vá bem. Está atrás de liquidez e a ação tipo B (uma ação corresponde a dez votos) não terá liquidez, pois não será listada em bolsa.

Valor: A oferta não arranhou a imagem da Cosan?

Diniz: Foi uma operação pioneira, por ser a primeira empresa brasileira com ações listadas nos EUA, sem ser ADR. Se voltarmos ao passado e lembrarmos que o setor tinha uma imagem péssima, que remetia aos coronéis e usineiros, essa já foi uma revolução. Agora, com o tempo, o pessoal vai entender a necessidade de fazer uma operação dessas para poder acompanhar o dinamismo do setor.

Valor: Alguns dizem que há existe um desconto na ação pelo chamado “risco Ometto”…

Diniz: Desde a operação, as ações da Cosan subiram muito. Se existia o risco Ometto, a partir deste momento, passou a existir o prêmio Ometto. Poucas empresas conseguirão ir nessa direção acertada. É Ometto para o mal e para o bem.