Em meio ao forte nervosismo dos mercados globais, o grupo Cosan conseguiu R$ 550 milhões em dinheiro novo. O caixa cheio e o cenário de queda no preço dos ativos já levam a companhia a pensar em trocar projetos de novas usinas, conhecidos como “greenfield”, por aquisições, contou Paulo Diniz, diretor financeiro e de relações com investidores do grupo, ao Valor.
A empresa concluiu ontem o aumento de capital de R$ 1,7 bilhão, cujo objetivo inicial era transferir para o Brasil os recursos obtidos pela controladora Cosan Limited na polêmica oferta de ações na Bolsa de Nova York, em agosto do ano passado. A Cosan obteve adesão de parte significativa dos minoritários, fazendo com que a controladora não precisasse comprar todas as novas ações emitidas.
Do total da operação, R$ 550 milhões vieram dos acionistas não controladores, que quiseram preservar sua participação na companhia e evitar uma diluição, e R$ 1,2 bilhão migrou do caixa da empresa listada na Nyse para a companhia brasileira. Após a operação, a controladora Cosan Limited elevou sua fatia na empresa do Novo Mercado de 51% para 56%. Os grupos estratégicos Kuok, conglomerado asiático de infra-estrutura, e a francesa Sucden, segunda maior trading de açúcar do mundo, mantiveram inalteradas suas fatias no negócio, comprando parte proporcional das novas ações.
Por conta da adesão dos minoritários, restaram US$ 450 milhões na conta da controladora. Quando fez a captação internacional, o plano previa a transferência de todo o montante obtido para a empresa brasileira, via aumento de capital. Porém, Diniz explica que os recursos agora deverão ficar na Limited e poderão ser usados nos ambiciosos planos de expansão internacional, uma vez que novos recursos foram obtidos com minoritários que aderiram ao aumento de capital. “Vocês verão que estamos mesmo pensando grande e que tudo tinha uma razão de ser.”
Com 17 usinas usinas em operação no país, o Grupo Cosan, maior processador de cana do Brasil, anunciou em abril do ano passado a construção de três novas usinas em Goiás. Os aportes necessários, de US$ 650 milhões, estavam programados para Jataí, Montevidiu e Paraúna. No entanto, esses projetos podem ser colocados em banho-maria, se a Cosan achar conveniente fazer aquisições.
A decisão da Cosan de partir para projetos “greenfield” ocorreu num momento que os preços das usinas estavam inflacionados por conta da forte alta da commodity, sobretudo em 2006, quando bateu quase US$ 0,20 por lira-peso em Nova York. Desde o ano passado, contudo, as cotações começaram a despencar. E agora, com os preços do açúcar em patamares mais baixos, a Cosan estuda oportunidades de aquisições. “Já tem empresas em dificuldades [financeiras] por conta deste cenário [de preços baixos da commodity].”
A situação do setor, combinada à crise internacional que está derrubando os preços dos ativos em geral, está tornando a compra de companhias uma possibilidade cada vez mais atraente.
Na safra 2008/09, o grupo processará 42 milhões de toneladas de cana, 8% mais que o ciclo anterior.
Antes de anunciar aquisições, a Cosan quer concluir o processo de reorganização gerado pela abertura de capital da controladora nos Estados Unidos. A etapa final consiste na permuta de ações da companhia brasileira pelos papéis da Limited. Cada uma ação da empresa local será trocada por um papel da controladora. Segundo Diniz, a idéia é lançar a oferta de permuta nos próximos dez dias. Aí então, os investidores têm 30 dias para decidir pela troca dos papéis. Caso mais de dois terços optem por mudar para a Limited, o prazo terá de ser estendido por mais 90 dias.