Todo mundo o leigo, o transportador o autodidata, o consultor de logística faz a mesma pergunta: por que o Brasil não tem um transporte ferroviário pujante? A resposta pode encontrar guarida numa atávica falta de planejamento logístico que resulta em outras mazelas com reflexos na matriz de transporte que dá aos trilhos posição de coadjuvante, não de protagonista.
Tempos atrás, ainda nos tempos dos portos e ferrovias nas mãos do Estado, e quando ainda nem se falava de logística no Brasil, uma das maiores tradings de commodities do mundo contratou a estatal ferroviária Fepasa e construiu terminal portuário no Guarujá (SP) para garantir ou ter mais previsibilidade do escoamento da sua safra.
Apesar da privatização das ferrovias, o cliente ainda tem de arregaçar as mangas e garantir um espaço na ferrovia. Ou seja, cabe ao cliente a iniciativa de procurar o prestador de serviço. Em outras palavras, se o embarcador n ão investir em logística sua carga corre o risco de não viajar de trem? “O modelo desenhado para a Rumo Logística é exatamente este. Nós estamos investindo pesadamente em material rodante, na adequação da via permanente da concessionária e nos terminais de armazenagem, tanto no interior como também no Porto de Santos”, diz o presidente da empresa, Julio Fontana.
A Rumo é um braço logístico da Cosan, hoje a maior produtora de açúcar, etanol e energia do Brasil e um dos maiores do mundo, com capacidade de moagem de cana de açúcar superior a 60 milhões de toneladas por ano.
A criação da Rumo Logística foi guiada por vários motivos. “Queríamos prover uma solução logística integrada para transporte e armazenagem de açúcar e com isso fazer um atendimento logístico completo aos nossos clientes, dentro do conceito ‘porta a porta’”, explica Fontana, que assinala. “Para isso, nós precisávamos agregar valor a ativos muito importantes que a Cosan tem em Santos (SP), que são os terminais portuários. Juntos, eles têm capacidade de exportar mais de 11 milhões de toneladas por ano. Somado a isso, identificamos que, com a inclusão do transporte ao nosso negócio, poderíamos disponibilizar menos variabilidade de preços aos clientes durante os períodos de safra e com isso teríamos mais controle da logística”. Disso, resultou a opção por investir em ferrovia, “que oferece um serviço melhor e mais barato e não enfrenta os problemas rodoviários de congestionamento no Porto de Santos”.
Para tirar a idéia do papel a Rumo Logística está investindo para atender a crescente demanda ferroviária por açúcar, com o objetivo de aperfeiçoar o transporte. Para isso, adquiriu 729 vagões de descarga rápida (menos de 1 minuto) e capacidade para 100 toneladas cada para transporte a granel e 50 locomotivas com motor de 4.400 hp. “Estes equipamentos, além de dinamizar o transporte de açúcar do interior para o Porto de Santos, serão responsáveis pela retirada de cerca de 30 mil caminhões que circulam por mês nas estradas de São Paulo, o que diminuirá a emissão de CO2 na atmosfera, além das consequentes filas para desembarque do produto”, assinala Julio Fontana, engenheiro, administrador e ex-presidente da MRS Logística, maior operadora de carga ferroviária do País.
O sucesso do transporte, principalmente ferroviário, está intimamente relacionado com a agilidade nas pontas. Para isso, além da ferrovia em si, a Rumo tem investido também em melhorias “significativas” no terminal de Santos. “Estamos reconstruindo armazéns, trocando shiploaders, instalando novas moegas. A operação inclui investimento na cobertura do píer de atracação (para embarque mesmo em dias de chuva), construção de uma pêra ferroviária, construção, aquisição e parcerias em pelo menos sete terminais no interior de São Paulo, além de investimentos na duplicação da via permanente da ALL (América Latina Logística), principalmente no trecho que liga Sumaré a Santos, o maior gargal o ferroviário do Brasil”, diz Fontana, que complementa: “A duplicação do leito trará melhoria significativa a todo transporte ferroviário em direção ao Porto de Santos.” Carga é que não falta na ligação entre o rico interior paulista e o Porto de Santos, maior terminal portuário do País. “No primeiro ano de operações da Rumo, em 2010, movimentamos 5 milhões de toneladas de açúcar; para 2011 projetamos algo em torno de 6,5 a 6,8 milhões e esperamos alcançar – em 2014 – o volume de 11 milhões de toneladas”, quantifica o presidente da empresa, que especifica: “O açúcar originário da Cosan representa 30%. Demais 70% vêm de outros clientes.”