A Cosan, empresa de infraestrutura e energia, descarta fazer aquisições neste momento de fragilidade da indústria sucroalcooleira, enquanto busca melhorar o desempenho operacional e aposta em etanol de segunda geração para o futuro desse negócio, disse um alto executivo nesta quinta-feira.
O setor de açúcar e etanol, que já foi o carro chefe da Cosan e hoje é apenas um dos negócios do conglomerado, vive uma crise financeira no Brasil desde 2008, o que traz desafios adicionais para a Cosan, que tem uma joint venture com a Shell nesse setor.
“Nosso objetivo é, sem dúvida nenhuma, melhorar o retorno médio sobre o capital empregado nesse ´business´. E, fazendo aquisições, não vamos conseguir chegar nisso”, disse o diretor vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores, Marcelo Martins, em entrevista à Reuters.
A divisão de etanol, açúcar e cogeração é a que apresenta o menor retorno sobre o capital investido, observou Martins, ficando abaixo de dois dígitos nos últimos anos, enquanto em outras unidades –incluindo gás natural, distribuição e logística– o percentual varia entre 13 a 14 por cento.
Essa situação se dá em meio a dificuldades decorrentes de problemas estruturais do setor, que nos últimos anos levaram ao fechamento de dezenas de indústrias de cana, sob o impacto da crise de crédito de 2009 agravada pela pressão de custos e baixos preços dos produtos, especialmente em função do controle governamental de preços da gasolina, que limita altas do etanol.
“Crescemos muito por aquisições e no decorrer deste processo construímos um portfólio com certo desnível quanto à qualidade operacional dos ativos (das usinas). O foco hoje é trazer equalização do nível operacional, de forma que esta eficiência seja aproveitada no sistema inteiro”, acrescentou o executivo.
Com aquele baixo retorno, a Cosan busca um foco na melhoria operacional, especialmente em um segmento no qual 70 por cento do custo total é agrícola.
Caminho possível
Para o futuro, a empresa acredita que pode se beneficiar do advento do etanol de segunda geração, que permitiria um maior aproveitamento da biomassa da cana e redução de custos.
“A segunda geração é nossa grande esperança, mas não vamos esperar só isso, mas estamos focando na melhoria operacional, principalmente na parte agrícola”, disse. “É aí que vamos conseguir resultados substanciais.”
Isso porque o etanol de segunda geração ainda precisa superar algumas etapas para ser viável em escala comercial, a ponto de implementar completamente o plano que prevê investimentos de até 2 bilhões de reais, até meados da próxima década.
O etanol de segunda geração é produzido a partir do aproveitamento da biomassa da cana (bagaço e palha).
“A segunda geração é o nosso grande foco hoje, porque aí teremos escala e uma melhoria operacional que vai mudar a dinâmica do ´business´”, disse o executivo.
Ele explicou que este etanol de segunda geração, além de melhorar a eficiência de custos da cadeia, melhora a utilização do potencial energético da cana.
“Ainda não está num nível que pode se viabilizar a produção comercial. Mas o que temos visto é que deve caminhar para isso. Talvez se tenha agora uma perspectiva que a gente nunca teve até hoje”, explicou, ponderando que os custos ainda não são competitivos.
A Cosan opera, por meio de joint venture com a Shell, as unidades Raízen Energia, que inclui açúcar, etanol e cogeração, e a Raízen Combustíveis, para área de distribuição.
No último trimestre, a Cosan teve uma receita de 9,6 bilhões de reais, dos quais 1,7 bilhão de reais são oriundos da Raízen Energia, a maior companhia de açúcar e etanol do Brasil.
(Fonte: Reuters)