Há cinco dias seguidos a usina termelétrica de Cuiabá, a Mário Covas, não recebe o gás natural enviado pelo governo boliviano. O último despacho foi realizado na quarta-feira passada, quando a medição final contabilizou volume de 700 mil metros cúbicos (m³). Aliando a falta de insumo à parada estratégia para manutenção, a planta completa hoje 17 dias de paralisação.
O diretor de Assuntos Comerciais, Regulatórios e Institucionais da EPE, Fábio Garcia, confirmou presença hoje, na Assembléia Legislativa, para uma espécie de ‘sabatina’ que será feita pelos deputados que querem saber as reais condições para a térmica operar e o que representa para o Estado a saída temporária da planta do Sistema Interligado Nacional (SIN).
No período de 26 de agosto a 6 deste mês, a operadora da usina, a Empresa Produtora de Energia (EPE), suspendeu a geração para manutenção, medida classificada como de rotina, necessária e programada pela diretoria da EPE.
Mesmo renovando as condições do acordo provisório entre a EPE e a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) no último dia 30, a planta só recebeu gás por dois dias seguidos – dias 4 e 5. A instabilidade do momento e a ausência de garantias de um suprimento diário freiam o acionamento das turbinas. “A retomada depende de um ambiente que garanta continuidade no fornecimento. Precisamos de garantias para operar ininterruptamente”, disse Garcia, na semana passada, posicionamento mantido pela operadora.
HISTÓRICO – Ao renovar o contrato, ficou acertado entre os governos do Brasil e Bolívia que durante este mês seriam marcados encontros para tornar as condições prévias, em definitivas. Segundo a assessoria da EPE, até o momento ainda não houve qualquer contato para mais uma rodada de negociações. A falta de agenda também foi confirmada pela assessoria do Ministério de Minas e Energia (MME), ontem.
Desde que firmou o pré-contrato com a YPFB, na madrugada do dia 22 de junho, a EPE vem custeando a alta no preço do milhão do BTU do insumo, que passou de US$ 1,19 para US$ 4,20, majoração de 253%. O reajuste do gás foi acertado durante uma visita do presidente boliviano Evo Morales ao presidente Lula, em fevereiro.
Além da retomada nos despachos diários de 1,1 milhão/m³ – volume assegurado no contrato provisório – a EPE aguarda a definição dos critérios de repasse da variação sobre o preço do gás natural que abastece a usina e que serão extraídos de uma consulta pública que deverá, durante 21 dias, reunir contribuições para regulamentação do reembolso da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) à operadora da planta. Só depois de compiladas e aprovadas é que a térmica vai ser reembolsada sobre o volume a mais que está desembolsando desde junho, quando o novo valor do BTU do gás natural entrou em vigor. Até lá, a usina permanecerá custeando cerca de US$ 3,7 milhões/mês pelos 1,1 milhão de metros cúbicos consumidos.