Em vez de intervir no mercado para reduzir o preço do álcool, o governo deve priorizar a formação de estoque regulador do produto para atender o mercado em momentos da entressafra, nos meses de janeiro e fevereiro. A avaliação foi feita pelo diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, que não acredita no sucesso do acordo firmado entre o governo e usineiros, na semana passada, que estabeleceu um preço máximo para o álcool combustível (anidro e hidratado) de R$ 1,05 o litro.
“No Brasil, sempre que o governo intervém congelando o preço de uma mercadoria, ou o produto some da prateleira ou sobe de preço”, diz o diretor CBIE, que faz consultoria para as indústrias do setor energético.
Segundo Pires, o governo prometeu aos usineiros estudar um programa de estocagem do produto para evitar flutuações de preço no futuro. Para ele, este ano, o preço do álcool subiu em função da retomada da venda do álcool, puxada pelo avanço da demanda interna por carros bicombustíveis e também pelo aumento das exportações da commodity. “Também teve impacto na alta de preço a decisão do governo de adicionar corante no álcool anidro (utilizado na mistura com a gasolina) para evitar a adulteração do produto”, ressalta o diretor.
De acordo com ele, o álcool é uma commoditie e, como todas, flutua com a safra ou a entressafra, além de ser influenciada por aspectos climáticos. “No Brasil, em janeiro e fevereiro, o preço do álcool sobe por causa da entressafra. Já em abril e maio, o valor cai porque é o início da safra”, explica o consultor. Pires afirma ter feito contato com algumas distribuidoras paulistas na última semana, que, de acordo com ele, disseram que “o álcool subiu depois do acordo das usinas com o governo em vez de cair como estava planejado”.
Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, o consumidor que tenha carro bicombustível deve optar, neste momento, pela gasolina. “Com a diminuição do consumo, vai sobrar álcool no mercado e o preço cairá outra vez”, prevê. “Isso é que é política de mercado. O preço artificial prejudica tanto o produtor como o consumidor de álcool”, completou Pires.