O setor de açúcar orgânico no Brasil, que ostenta a posição de maior produtor e exportador do mundo , está em alerta máximo. A ameaça de novas tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos, que podem chegar a 98% , coloca em xeque a viabilidade das exportações para o principal mercado consumidor do produto. Essa política protecionista, que afeta diretamente cerca de metade da produção nacional , impacta um grupo seleto e concentrado de empresas que dominam o mercado.
Mário Campos, presidente da Siamig e da Bioenergia Brasil durante entrevista ao JornalCana 360 na Fenasucro, destacou que além das usinas do nordeste, responsáveis pela exportação da cota brasileira de açúcar para os EUA, as cerca de quatro usinas que produzem açúcar orgânico no país serão muito prejudicadas.
“Porque com o fim dessa cota o Brasil vai ter que pagar 50% para entrar com esse açúcar orgânico lá, enquanto os nossos concorrentes Colômbia, Paraguai e Argentina vão pagar só 10%. Então especificamente sobre açúcar orgânico, sob a cota americana de açúcar há um prejuízo muito grande.” explica Campos.
Os quatro principais produtores
As quatro companhias que respondem por praticamente a totalidade da produção de açúcar orgânico no Brasil são a Native (Grupo Balbo), a Jalles Machado, a Goiasa e a Adecoagro. Juntas, elas têm uma capacidade de produção combinada de aproximadamente 280 mil toneladas por ano. Com o fim de uma cota de 210 mil toneladas que permitia a importação sem tarifas, o produto brasileiro se torna menos competitivo em relação a países como Colômbia, Argentina e Paraguai, que pagam uma tarifa de apenas 10%.
Conheça as quatro gigantes brasileiras do açúcar orgânico:
- Native (Grupo Balbo) – Pioneira no segmento, a Native é uma das marcas mais reconhecidas no mercado global. É responsável por 34% do mercado mundial de açúcar orgânico. A empresa opera a Usina São Francisco e a Usina Santo Antônio, ambas com um sistema de produção focado em agricultura regenerativa. A Usina São Francisco, em Sertãozinho, São Paulo, foi a primeira no Brasil a receber uma certificação internacional para a produção de orgânicos, em 1997 . O Grupo Balbo produz anualmente cerca de 75 mil toneladas de açúcar orgânico.
- Jalles Machado – Reconhecida como a maior exportadora individual de açúcar orgânico do mundo. Com usinas em Goianésia, Goiás, e em Minas Gerais, a empresa tem uma capacidade total de moagem de 9 milhões de toneladas de cana por safra. Seus produtos de açúcar orgânico são comercializados sob as marcas Itajá Orgânicos e La Terre . A Jalles Machado exporta para mais de 20 países e investe em um rigoroso sistema de certificações. Conta com selos de comércio justo como o Fair Trade e o IBD, que garantem a qualidade e a sustentabilidade de sua produção .
- Goiasa – A Goiasa, em operação desde 1991, é uma importante produtora de açúcar e álcool orgânicos, além de energia renovável . A usina, localizada em Goianésia, Goiás, produziu 67.044 toneladas de açúcar orgânico em 2024. A empresa possui um portfólio de certificações internacionais, incluindo os selos da União Europeia, Japão e Coreia do Sul, além do Regenerative Organic Certified ROC).
- Adecoagro – Atua em Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais . A empresa possui três usinas com capacidade de moagem total de 11 milhões de toneladas de cana. A flexibilidade industrial permite a produção de diversas variedades de açúcar, incluindo o orgânico. A Adecoagro se destaca por seu modelo de sustentabilidade, reaproveitando resíduos como a vinhaça e a torta de filtro para o campo como biofertilizantes, o que reduz o impacto ambiental de suas operações .