Mercado

Concorrência impôs ajustes à indústria

Líder mundial no fornecimento de equipamentos ao setor sucroalcooleiro, a Dedini viu seu faturamento despencar de R$ 2,2 bilhões para R$ 1 bilhão entre 2008 e 2010, por causa da “invasão” de importados no período. O presidente da empresa, Sérgio Leme, atribui a queda não somente à valorização do real, mas também à crise internacional.

“A crise apertou o apetite internacional por novos mercados. Com o consumo em queda lá fora, as empresas começaram a buscar oportunidades em outros países e o Brasil se mostrou um foco natural”, avaliou.

A empresa, que atua também nas áreas de cimento, óleo, siderurgia, celulose e alimentos, reduziu sua capacidade de produção de 86% em 2008 para os atuais 65% e teve de fazer ajustes no quadro, cortando várias empresas terceirizadas.

O impacto só não foi pior, diz Leme, por causa da diversificação das atividades e da internacionalização da companhia. Hoje, o mercado externo representa de 10% a 15% da receita da Dedini. Segundo ele, um bom retrato da crise do setor é a balança comercial das empresas metalo mecânicas, com US$ 8 bilhões em exportações em 2010, ante US$ 24 bilhões de importações. “Ou seja, uma diferença de US$ 16 bilhões que poderia estar sendo produzida aqui.”

Segundo estimativa da LCA Consultores, a parcela de importados na economia chegou a 20,2% no terceiro trimestre, ante 18,4% do período anterior. Foi o maior avanço desde 1997. A parte mais visível do fenômeno é a substituição de componentes e máquinas produzidos localmente por importados.

A produção da fábrica de válvulas industriais RTS, de Guarulhos, na Grande São Paulo, caiu pela metade desde o início de 2009. Pedro Lúcio, dono da empresa, conta que demitiu 70 de seus quase 200 empregados e passou a importar da China 30% dos componentes para reduzir custos e tentar enfrentar a concorrência das válvulas importadas, principalmente chinesas.

“Se nada for feito, em cinco a indústria nacional vai virar uma filial da China”, acredita Lúcio. Ele passou a trazer do país asiático peças fundidas em aço. “Enquanto o quilo do aço bruto custa aqui R$ 30, importo peças prontas por R$ 10 o quilo.”

A competição com importados também é forte em produtos de consumo. Quando o governo instituiu a medida antidumping contra a importação de calçados chineses, em setembro de 2009, o sócio e diretor da calçadista gaúcha West Coast, Rafael Scheffer, achou que acabaria a pressão dos chineses sobre o setor. Ele não contava que, em pouco tempo, os importados asiáticos voltariam a incomodar.

A queda das importações de sapatos da China foi acompanhada pela explosão de remessas de países como Malásia e Vietnã. Para a indústria nacional, um sinal de triangulação para escoar calçados montados com material chinês. “O antidumping funcionou em relação aos chineses, mas muitos importadores buscaram as alternativas dos outros países”, diz Scheffer.

Sem exportar por causa do câmbio, muitos acabam direcionando a produção ao mercado interno. Parte da estratégia da West Coast vai nesse caminho. Mantém presença no exterior com 25% a 30% das vendas, mas deixou de investir na exportação para focar no mercado interno.

A estratégia acabou elevando em 28% o faturamento da West Coast neste ano. A empresa já aumentou a produção em 35% com o início da operação de uma unidade em Sergipe e outras duas no interior do Rio Grande do Sul. A projeção da West Coast é fechar o ano com 3 milhões de pares.