Em uma viagem de três horas de lancha a partir da sede do município de Eirunepé (1.150 km de Manaus), subindo o sinuoso rio Juruá, em plena selva amazônica, chega-se à comunidade de Vila União.
Os habitantes da vila, formada por cerca de 25 famílias, trabalham na plantação de cana e na produção de açúcar mascavo e integram o projeto Gramixó da Coca-Cola. A área plantada de cana atinge cerca de 70 hectares.
A produção da comunidade vem crescendo nos últimos anos e está, em média, em 600 quilos de açúcar mascavo por dia. E, logo mais, os moradores esperam dobrar a produção, com um segundo engenho, doado pelo governo do Estado.
“Agora [a produção] não pára mais, não”, diz o presidente da comunidade de Vila União, José Geildo Nascimento Monteiro, 27. A produção de açúcar melhorou a vida da comunidade desde o início da produção, em 2001. Antes, só pescavam e produziam farinha de mandioca. “Vivíamos de vender alguma saca de farinha e comprar só o necessário”, diz Monteiro, que tem renda mensal média de R$ 260 (um salário mínimo).
Parabólica
Com o dinheiro do açúcar, hoje a comunidade tem TV com antena parabólica. Os telhados, antes de palha, hoje são de alumínio ou telha. As casas têm aparelho de som, sofá e estante. As crianças andam mais bem vestidas e se alimentam melhor. Apesar disso, ainda sofrem com a desnutrição. Também chamam a atenção os dentes cariados, devido à falta do hábito de escovar os dentes. Sapatos e chinelos são raros.
Além disso, alguns moradores passaram a investir o dinheiro na compra de gado e de outras mercadorias. “As pessoas da comunidade estão pensando em coisa maior”, afirma Monteiro.
Com a expansão da produção, os produtores conquistaram mercados e passaram a vender não apenas para a Coca mas também para o mercado local. Nos mercados do centro de Eirunepé, encontra-se facilmente o açúcar mascavo produzido pelas comunidades da região.
Isso acontece porque as pessoas já aprenderam a consumir o produto e, assim, o produtor consegue vender na cidade por um preço um pouco mais alto.
Em Eirunepé, os produtores vendem o quilo do açúcar por pelo menos R$ 0,80. Pela Coca, recebiam no final de 2004 R$ 0,74 por quilo -nesse caso, a vantagem é a garantia de compra de um grande volume. Além do açúcar, os produtores já vendem melado e rapadura.
Com a ampliação dos negócios, os habitantes da vila criaram a Associação dos Produtores de Cana-de-Açúcar de Vila União, com o objetivo de agilizar o escoamento da produção.
A Vila União, que é a comunidade que mais produz na região, já gera emprego e renda indiretos e em outras comunidades.
“Há um morador aqui da comunidade que não trabalha com a cana, mas tem um pequeno comércio, que é favorecido pelo aumento da circulação de dinheiro”, afirma o presidente da comunidade.