Como um país como o Brasil – com dimensões continentais e raras ilhas de excelência em tecnologia -, que apresenta uma majoritária exclusão digital e um grande isolamento tecnológico em sua rede de ensino médio, pode planejar a atualização de seus educadores? Um exemplo claro das mudanças de paradigmas tecnológicos é vivenciado pela biotecnologia moderna que, a cada segundo, coloca novos desafios para a compreensão dos educadores e para a sociedade em geral.
Os professores além de ter de usar seu tempo de lazer corrigindo centenas de provas o empregam procurando atualização científica, pois o papel de educador exige este dinamismo. O que vemos, hoje, no cabedal de informação veiculada pela mídia sobre clonagem, células-tronco, biossegurança, transgênicos, nanotecnologia, proteômica, por vezes, são informações que podem ajudar o educador a formar uma opinião sólida e fundamentada cientificamente, mas também pode conduzi-lo a dúvidas e conflitos, dado o grande número de matérias antagônicas sobre o mesmo tema.
Mesmo em amostragens consideradas privilegiadas, como um grupo de professores de Biologia, verificam-se respostas sem cunho científico para perguntas como: Um tomate transgênico contendo gene de peixe terá odor de peixe? Sim é a resposta da maioria – por mais absurdo que pareça, este foi o resultado verificado numa pesquisa recente realizada pela Associação Nacional de Biossegurança (ANBio) em sua homepage (www.anbio.org.br).
Diante de tamanho despreparo dos educadores, como fica o projeto recente do governo que prevê tornar o País competitivo em biotecnologia? O analfabetismo científico põe por terra todo o investimento feito no setor de pesquisa por causa de resistências e incompreensões sobre as vantagens desta tecnologia. As campanhas contrárias que promovem uma moratória branca no Brasil, desde 1999, alegaram sempre o risco de se usar a biotecnologia moderna, mas esqueceram de perguntar qual é o risco de não se usar a tecnologia.
Com isso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) deixou de pôr o seu mamão resistente a vírus, com menos características alergênicas, na mesa da população. A cana-de-açúcar resistente a herbicida e que requer menos defensivos e, por conseguinte, polui menos o meio ambiente, também não pôde sair do laboratório. E tantos outros projetos foram abortados por causa de campanhas terroristas de desinformação que se propagaram sabe-se lá com financiamento de que agentes.
Educação para a vida
A saída para a constante atualização de professores e da sociedade em geral é a criação de instrumentos que permitam a popularização da biotecnologia, com o endosso do governo por intermédio dos Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia.
Uma revista de popularização elaborada por cientistas, mas traduzida em linguagem simples, de fácil compreensão por qualquer pessoa permitiria a desmistificação dos novos avanços da biotecnologia moderna. O Brasil, embora tenha sido pioneiro no tema da popularização da biotecnologia pela revista Biopop, reproduzida em diversos países, viu recentemente este projeto abortado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia sem nenhuma justificativa plausível.
Por outro lado, o Peru acaba de lançar sua Lei de Biotecnologia, em que considera prioridade a educação da população sobre o tema e a importância da divulgação das vantagens da biotecnologia para que a sociedade tenha acesso aos avanços científicos e para que o país possa se tornar competitivo neste setor.
Deveria estar claro para o governo brasileiro que o grande gargalo para o desenvolvimento da biotecnologia no Brasil não está apenas nos investimentos ou na competência tecnológica de suas instituições, mas sobretudo no analfabetismo científico que não permite a plena adoção dos benefícios desta tecnologia pela sociedade brasileira.