Produto enfrenta ações condenáveis de países e campanhas que o tornam vilão. Mas é possível dar a volta por cima
Não é novidade para ninguém que o açúcar brasileiro enfrenta práticas protecionistas de outros países, produtores e não. Há os subsídios à exportação na Índia e as sobretaxas impostas pelas salvaguardas da China.
Junto a essas práticas o açúcar brasileiro é vítima de cruzada dentro e fora do País. Querem torna-lo um vilão, o grande responsável por doenças não transmissíveis.
Em meio a isso, iniciativas patrocinadas pelo governo, e que integram representantes da indústria de alimentos, oficializaram parceria no fim de 2018 para a redução gradativa de açúcar em seus produtos até 2022.
Essa diminuição pode chegar a totalizar a produção de açúcar de uma usina com moagem de 2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, segundo Alberto Shinkatu, um dos maiores especialistas em tecnologia de açúcar do País em entrevista ao JornalCana.
Bombardeio
O açúcar brasileiro possui também uma lista de adversários ‘saudáveis’ e não, cujos produtores investem pesado em um marketing que amplia o bombardeio sobre o alimento que sai dos canaviais.
O que pareciam apenas críticas longe da realidade agora se tornaram realidade.
O volume de açúcar que deixará de ser injetado pela indústria a partir de 2022, por conta da parceria entre indústria e Governo, chegará a 140 mil toneladas por ano. Trata-se de um montante ínfimo perto da produção da safra 2018/19, que deve alcançar 26 milhões de toneladas apenas nas unidades da região Centro-Sul.
Mas se o bombardeio persistir, essa produção tende a perde mais espaço no mercado mundial, até porque a maioria da produção está centrada nos tipos VHP e VVHP.
Urgência
A vilanização do açúcar brasileiro é um problema para o qual o setor sucroenergético precisa despertar com urgência, avaliam especialistas ouvidos pelo JornalCana.
Até porque há soluções para enfrentar essa guerra. Uma delas é diversificar a produção para tipos de açúcares como o de baixo índice glicêmico. Esses não elevam muito o açúcar no sangue, não estimulam a produção de gordura e aumentam a sensação de saciedade.
Esse tipo de açúcar já é produzido no Brasil. O Grupo Virgolino de Oliveira (GVO) fez parceria em 2018 com empresa detentora da tecnologia Nucane, que possui índice glicêmico de no máximo 55, bem abaixo dos 80 e 92 respectivos do açúcar mascavo e do refinado.
A meta é chegar a 250 mil toneladas para serem distribuídas no mercado brasileiro sob a marca Nucane. O primeiro carregamento foi exportado no fim de 2018 para a Malásia.
Nesta e nas páginas seguintes o JornalCana apresenta avaliações de lideranças do setor sucroenergético sobre a ‘guerra’ enfrentada pelo açúcar e como dar a volta por cima.
China e as sobretaxas
Por meio do emprego da salvaguarda da China, o governo do país decidiu sobretaxar o açúcar importado a partir de maio de 2018.
Oficialmente, essa sobretaxa é de 15% sobre o primeiro 1,945 milhão de tonelada importada e de 50% sobre quaisquer importações fora dessa cota.
O setor sucroenergético brasileiro é um dos principais parceiros comerciais da China e, assim, também o maior prejudicado. O Brasil responde por mais de 60% das importações chinesas de açúcar.
Em agosto de 2018 o conselho de ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou pedido de o Governo acionar a China.
Em outubro, o Brasil iniciou pedido de consulta na Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar as medidas da China às importações de açúcar.
O Acordo sobre Salvaguardas da OMC permite que esse tipo de tarifa seja adotado temporariamente para conter um aumento súbito e imprevisto das importações que possa prejudicar os produtores nacionais.
Mas, de acordo com o governo brasileiro, a China quebrou 12 regras da OMC sobre salvaguardas, cinco regras sobre a administração da cota tarifária e 13 regras com seu sistema automático de licenciamento.
A expectativa de lideranças do setor sucroenergético é de que China e Brasil cheguem a uma saída o quanto antes.
Delcy Mac Cruz, de Ribeirão Preto (SP)