Mercado

Commodities perdem atratividade

Depois de a Amaranth Advisors e outros fundos de hedge terem registrado enormes perdas com gás natural, e de várias commodities terem caído, alguns investidores estão se desfazendo de seus investimentos nessas matérias-primas, uma mudança de humor que pode derrubar os preços ainda mais caso se transforme numa grande pressão vendedora.

Por muito tempo avessos a petróleo, gás natural, metais e outras matérias-primas, investidores de todos os tipos — fundos de hedge, fundos de pensão, fundações e pessoas físicas — tornaram-se fãs da aplicação em commodities. Esses investidores, entre os quais estão muitos especuladores de curto prazo, tornaram-se participantes importantes de vários mercados, determinando cotações às vezes mais do que as empresas que compram os materiais para a produção industrial ou serviços.

A reação desses investidores tardios “terá um efeito nos usuários, produtores comerciais, bem como investidores”, diz Howard Simons, um estrategista da firma de análise Bianco Research. “A enxurrada de dinheiro que entrou está fora da escala de qualquer coisa no passado, e a maioria eram apenas especuladores.”

Hoje, há 68 fundos de hedge orientados para commodities nos Estados Unidos, ante 29 três anos atrás, segundo a Hedge Fund Research Inc. Aí não está incluído o número cada vez maior de fundos multimercados e de futuros administrados, como o Amaranth, que também negociam commodities. (Leia mais sobre a Amaranth no texto abaixo.)

Quanto aos fundos de pensão, “até 2003 não havia muito interesse em commodities”, diz Neil Rue, diretor da consultoria Pension Consulting Alliance Inc. “Mas as commodities estão se tornando uma importante classe de ativos e os investimentos na área multiplicaram-se desde 2003. Não era 10% ou 5% (de crescimento) por ano, mas muito mais que isso.” Rue começou a aconselhar seus clientes em fundos de pensão a ser cuidadosos com as commodities.

Como fizeram com as ações de tecnologia antes de elas desabarem em 2000, os investidores pessoa física também entraram na onda das commodities, por meio de ações de empresas do setor e fundos de investimento especializados. Hoje há 48 fundos nos EUA que investem em commodities e ações relacionadas, com um patrimônio de US$ 56 bilhões. Três anos atrás, eram 34 com menos de US$ 10 bilhões, segundo a firma de acompanhamento de fundos Morningstar Inc.

Hoje, o 13o maior proprietário de ouro do mundo não é um banco central, mas um fundo negociado em bolsa, o StreettracksGold Trust, que tem um patrimônio de US$ 7,5 bilhões — eram US$ 2,7 bilhões um ano atrás, e o crescimento veio basicamente de novos investimentos.

Alguns investidores entraram nesses mercados porque viram uma escassez de longo prazo numa série de commodities, entre elas petróleo, em decorrência da maior demanda por causa do crescimento econômico da China e da Índia. Mas outros estavam menos interessados nesses fatores de oferta e procura e entraram simplesmente porque os preços das commodities haviam subido nos últimos anos. A esperança era de pegar a próxima onda. As baixas taxas de juros possibilitaram aos fundos de hedge tomar dinheiro emprestado a taxas atraentes e investir em quase tudo.

O chumbo ilustra o impacto: é basicamente rejeito industrial, o descartado subproduto do processamento de cobre e ouro. Mas os preços do chumbo — que é usado principalmente em baterias de veículos — mais que dobraram nos últimos cinco anos, ainda que os estoques estejam altos e a demanda não tenha crescido.

Agora há sinais de que parte desse dinheiro especulativo esteja saindo do mercado.