Exceto por açúcar, cacau e suco de laranja, os preços das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior recuaram em julho, conforme levantamento do Valor Data que considera sempre os contratos de segunda posição de entrega dos produtos nas bolsas de Nova York (açúcar, café, cacau, suco e algodão) e Chicago (soja, milho e trigo). Para as três commodities transacionadas em Chicago, foi o terceiro mês consecutivo de queda, uma tendência que deve limitar o aumento da produção brasileira na safra de verão 2004/05 de soja e milho, cujo plantio tem início em setembro.
Para os exportadores de açúcar, contudo, o mês passado foi estimulante. O atraso de um mês e meio na colheita da safra brasileira de cana foi o principal fator para o salto de 14,33% na cotação média de Nova York em julho em relação à média de junho. No ano, o produto acumula valorização de 35,41%, a maior entre as oito commodities pesquisadas. Em 12 meses, o aumento atingiu 27,22%.
“A alta vem desde o fim de fevereiro, com as previsões de redução na produção da Índia, China e Europa e de queda nos estoques mundiais”, diz Júlio Maria Martins Borges, diretor da Job Economia e Planejamento. Ele observa que cotações a partir de 8,50 centavos de dólar incentivam as vendas de origem, o que já vem ocorrendo. “Mas isso pode limitar o movimento de alta em agosto”, ressalva o analista.
Já o cacau reverteu a curva de queda dos meses anteriores e encerrou julho com ganho de 11,96% em Nova York. A ausência de chuvas na Costa do Marfim e os baixos preços pagos ao produtor foram interpretados pelo mercado como desestímulos à produção na próxima safra do país africano, responsável por 40% da produção mundial da amêndoa. Associado à perspectiva de safra menor, o setor registra aumento da moagem nos Estados Unidos e Europa.
E o suco de laranja, que nos últimos meses amargou o esvaziamento do interesse de fundos de investimentos mais do que outros produtos, voltou a subir, como havia ocorrido em junho. Na comparação entre as médias mensais, a alta de julho foi de 13,54%, para 67,63 centavos de dólar por libra-peso. A má notícia para os exportadores nacionais é que houve forte recuo na última semana do mês.
Ainda em Nova York, mas já no terreno negativo, a maior queda foi a do algodão. As notícias de clima favorável ao desenvolvimento das lavouras americanas e a instável demanda chinesa continuaram pressionando os preços da pluma. Em média, os contratos de segunda posição encerram julho com quedas de 13,85% no mês, 34,51% no ano e 21,81% em 12 meses.
“As cotações desceram a um patamar que já não compensa ao Brasil exportar”, afirma Djalma de Aquino, analista de mercado da Conab.
O café também recuou, desta feita por conta das previsões não confirmadas de inverno rigoroso e de geadas em regiões produtoras do Brasil, que haviam sustentado os preços no mês anterior. A commodity, que acumulava alta de 7,8% em junho, recuou 10,24% no mês passado, baixando os ganhos acumulados no ano para 10,75% e para 14,38% em 12 meses.
Sérgio Carvalhaes, diretor do Escritório Carvalhaes, de Santos, diz que a queda foi maior do que a esperada. “Os especuladores compraram muitos lotes contando com um inverno rigoroso; quando desfizeram a posição, os preços despencaram”, afirma Carvalhaes. A expectativa, segundo ele, é de novas quedas em agosto com a colheita brasileira, com retomada do crescimento em setembro.
E, finalmente, o comportamento dos grãos em Chicago voltaram a tirar o sono da cadeia produtiva no Brasil. Como no caso do algodão, o clima favorável ao desenvolvimento das lavouras dos EUA e a incerta demanda chinesa tiraram sustentação dos mercados. A cotação média da soja, carro-chefe da pauta exportadora do país, ficou em US$ 6,9817 por bushel, em baixas de 13,71% no mês e 9,8% no ano. No caso do milho, as retrações são de 16,26% e 2,95%, respectivamente; no trigo, de 6,59% e 12,96%, sempre conforme o Valor Data.