Mercado

Combustível substituto

O que vai acontecer com o álcool se for mantida a tendência internacional de tratá-lo como combustível alternativo ao petróleo? Esse parece ser um debate que vai estar, a partir de agora, na vida do setor sucroalcooleiro brasileiro, que pela primeira vez enfrenta uma demanda de ordem mundial pelos seus dois principais produtos. Essa procura já fez dobrar o preço do açúcar no mercado internacional e abriu perspectivas para o álcool adcionado à gasolina transformar-se num combustível de primeira linha.

Temos uma nova realidade no setor, diz o diretor comercial do Grupo Tavares de Melo, Eduardo Tavares de Melo, conglomerado pernambucano que esmaga cinco milhões de toneladas de cana de açúcar/ano em três estados brasileiros e é uma das empresas de presença mais constante no mercado internacional. No caso do açúcar, adverte, é preciso considerar que o Brasil teve uma queda de safra de 30 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, a Europa, a partir deste ano, reduzirá sua produção com o fim dos subsídios, a Índia não produz mais as 20 milhões de toneladas que consome e virou importadora e a Tailândia, também, teve queda de safra.

Na outra ponta, o preço do petróleo transformou o álcool numa alternativa interessante pois, ainda que países como os Estados Unidos não atinjam o nível do Brasil (que adiciona um quarto de álcool à gasolina), poderão transformá-lo num combustível definitivo. E isso os fará sugar a maior parte do álcool disponível no mundo, seja ele produzido de milho, cana ou outra matéria prima.

Álcool vira solução à crise do petróleo

Com essa realidade vai ser difícil para o consumidor. Estudos internacionais indicam que, se algum dia os Estado Unidos adicionar apenas 10% à sua gasolina, eles sugariam 75 bilhões de litros por ano. Atualmente, mesmo crescendo 25% ao ano, toda produção de álcool americano de milho baterá em 16 bilhões de litros. É o mesmo que o Brasil consegue produzir à base de cana-de-açúcar. Ou seja: se o álcool virar combustível, a produção de hoje não suprime a demanda.

Crise anunciada

A primeira conseqüência disso, o consumidor brasileiro está vendo no posto da esquina. Os embarques internacionais acentuaram o déficit que o setor informara ao Governo Federal, já no ano passado. A informação não foi levada a sério. A redução do percentual na gasolina equilibra a oferta, mas não resolve.

Estoque regulador

Eduardo Tavares de Melo diz que o problema existe porque o Governo não dá nenhuma garantia ao consumidor como faz com a gasolina, através da Petrobras. Não existe estoque regulador. Ele lembra que, em 2005, o álcool foi vendido a R$ 500 a tonelada (mil litros) e o setor bancou a diferença do custo (R$ 800).

Preço crescena bomba e lá fora

O consumidor nem se lembra que em 2005 comprou álcool a R$ 1, o litro. Mas reage quando o preço bate no R$ 1,94. O problema é que, com o freguês internacional, porque o produtor venderia a tonelada por menos de R$ 1.200?

Brasil terá que ampliar produção

Isso tem a ver com as metas de crescimento que o setor precisa perseguir na nova realidade mundial. Para se manter líder, o Brasil terá que crescer 8% ao ano e produzir 600 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em 2010. No mínimo.

Novos projetos

Não está fácil. Este ano, o Brasil deve colher 413 milhões de toneladas (50 milhões no Nordeste). Mesmo que os 70 novos projetos de usinas anunciados sejam concluídos a um custo de US$ 15 bilhões. Eduardo Tavares de Melo estima que o setor só terá US$ 5 bilhões e precisará captar o restante. Inclusive externamente.

Novos atores

E a entrada de capital externo poderá ser antecipada por força dessa nova realidade. Isso já aconteceu com setores da economia brasileira, lembra o executivo. O fato novo são os preços do açúcar e do álcool estarem alinhados numa tendência de alta. A concentração e a chegada de novos atores é inevitável, conclui.