O etanol que muitos brasileiros já deixaram de usar nos seus carros, por não ser mais vantajoso financeiramente do que a gasolina, ainda representa a esperança de se tornar um dos principais combustíveis verdes no futuro. Hoje, o litro do etanol custa R$ 2,14 nas bombas de Salvador.
Para ter preços mais competitivos, o etanol precisaria ter uma produção maior. Mas sua matéria-prima, a cana-de-açúcar, também é muito usada para a fabricação do açúcar. Alavancar essa produção é o que propõe o Núcleo de Química Verde da Unifacs, um laboratório da universidade inaugurado este ano, a fim de trabalhar, principalmente, na pesquisa do etanol de segunda geração.
E o que significa um etanol de segunda geração? É o mesmo combustível, só que gerado a partir do bagaço da cana, e não apenas do suco. Atualmente, esse bagaço é queimado para gerar calor no processo de fabricação do etanol de primeira geração. O etanol de segunda geração ainda vai gerar uma redução do uso da terra, o que é favorável para o agronegócio. Isso porque, segundo a professora e coordenadora do laboratório, Leila Aguilera, é possível dobrar a geração do combustível utilizando a mesma área de plantio de hoje.
“No processo brasileiro convencional para produção de etanol, 92% do bagaço é usado para geração de calor no processo. Se apenas os 8% restantes fossem convertidos em etanol haveria um acréscimo adicional de 2.200 litros por hectare, elevando o rendimento total por hectare para 8.200 litros e reduzindo a quantidade de terra requerida para o plantio em 29%”, acrescenta. Atualmente, um hectare de área plantada de cana-de-açúcar é capaz de produzir 6 mil litros do combustível.
Produção
Mesmo com o nome de etanol de segunda geração, esse etanol tem a mesma qualidade do etanol normalmente fabricado. Segundo Leila, o problema a ser resolvido em muitas pesquisas é o custo desse novo combustível. “O custo das enzimas usadas na produção é que é elevado”, diz. Isso porque o bagaço que sai da cana precisa ser tratado. Depois, é necessário remover duas camadas que revestem a celulose (parte da parede celular das plantas). É aí que entra o uso das enzimas. A partir dessas quebras é que se obtém o combustível.
“O etanol de segunda geração, produzido de partes de plantas não comestíveis, é uma das alternativas ao petróleo, mais benéfica para o ambiente e mais promissora tecnologicamente”, acredita a professora.
Ela ainda lembra que o petróleo é uma fonte que vai se esgotar em algum momento. Leila destaca também que o etanol de segunda geração permite a geração de outros subprodutos, que podem ser utilizados em variados processos químicos.
Segundo a especialista, as regiões Sul e Sudeste do país já trabalham com laboratórios pesquisando o etanol de segunda geração. “Porém, no Nordeste nós somos pioneiros”, comenta. O Núcleo de Química Verde da Unifacs conta com o apoio do Instituto Brasileiro de Tecnologia e Regulação, Petrobras, Finep, Fapesb, CNPq e Ufba.