Mercado

Combustível e açúcar aumentam

Das prateleiras dos supermercados às bombas dos postos de gasolina o impacto é o mesmo: os derivados da cana de açúcar estão subindo de preço. Em um ano, o açúcar ficou 50,44% mais caro. Já o álcool combustível vem acumulando alta de 18%, desde janeiro.

Técnico de utilidades Jairo Sales, 40 anos, comenta que percebeu o aumento do preço do açúcar quando foi fazer compras no supermercado. Foto: Inês Campelo/DP/D.A Press Até o início da semana, era possível abastecer por R$ 1,69. Ontem, havia postos cobrando até R$ 1,85 pelo litro. A valorização do açúcar no mercado internacional e a produção menor do etanol no Centro-Sul, devido aos problemas climáticos dos últimos meses, são algumas das razões para os aumentos nesses produtos.

Ao fazer a feira do mês, o técnico de utilidades Jairo Sales, 40 anos, assustou-se com o preço do açúcar. “Subiu muito. Geralmente, levo a marca mais em conta. No mês passado, o menor preço era R$ 1,58. Agora, o mais barato está por R$ 1,73”, compara ele.

Como Sales levou três quilos do produto, só de um mês para o outro teve um gasto superior de R$ 0,45 com o produto. Considerando o cenário dealta de um ano, o desembolso extra é ainda maior. Segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômico (Dieese), há doze meses, o quilo do açúcar custava R$ 1,13. Ou seja, cada pacote está custando R$ 0,60 a mais. “E nem dá para economizar nesse item e levar menos pacotes. Lá em casa todo mundo é chegado em um doce. Tudo que se bebe tem açúcar e a minha esposa faz muitos bolos também”, comenta ele.

Quem abastece com álcool também não está satisfeito. “Rodei bastante para encontrar o preço de R$ 1,75. Até a semana passada estava R$ 1,69. Agora, tem postos cobrando até R$ 1,85”, relata o representante comercial Sávio Oliveira, 38 anos. Considerando que o preço do etanol não pode passar de 70% do valor da gasolina, que está a R$ 2,57, só é vantajoso se o álcool estiver por menos de R$ 1,79. “Hoje, eu abasteci com álcool, mas acho que vou voltar a usar gasolina”, afirma ele.

Mas a gasolina deve subir de preço também. “Como existe a mistura de 25% de álcool, a gasolina deve ir para R$ 2,69”, prevê José Afonso Nóbrega, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Pernambuco (Sindicombustíveis-PE). Segundo ele, como o açúcar está muito valorizado no mercado internacional, muitas usinas estão migrando a produção de etanol para o açúcar. Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindacúçar-PE), confirma o fato. “Isso está acontecendo, não no Nordeste, mas no Centro-Sul, que detém 89% da produção de cana. Como muitos tiveram problemas com chuvas e tem contratos de açúcar no mercado internacional para cumprir, reduziram a produção de etanol”, diz.

A valorização do açúcar se deve, principalmente, à menor produção da Índia, que é a maior consumidora de açúcar do mundo. “Eles tiveram também inundações por lá. Em vez de exportar, estão importando açúcar neste ano”, detalha Cunha. A exportação nacional de açúcar deve aumentar de 17 para 20 milhões de toneladas. Já a do etanol deve cair de 4,6 para 3 bilhões de litros, segundo projeções do Sindaçúcar.

Como a safra se inicia em agosto e setembro, era para os preços caírem agora. “Mas, por conta da crise, já se esperava uma produção cerca de 4% menor, porque muitos não conseguiram crédito para bancar a produção. Outras atrasaram a produção. Há duas usinas em Pernambuco que vão começar a moer na próxima semana e outras duas, que vão moer em outubro”, comenta ele. É possível que os preços do etanol melhorem a partir do próximo mês. “Mas não devem baixar muito por conta da baixa produção do Centro-Sul. Já o açúcar vai continuar em alta”, estima Cunha. (Mirella Falcão)