A safra canavieira de 2007/08 promete levar o Brasil a um novo recorde de produção de açúcar e álcool, mantendo o ritmo de crescimento “chinês” que vem sendo verificado desde 2000/01, de médios
9.9% ao ano. Embora a manutenção deste ritmo de crescimento possa parecer assustadora, pela possibilidade de uma reação adversa de preço, o consumo dos veículos flexíveis tem a capacidade de absorver os excedentes de álcool e, em última instância, da cana.
A frota de veículos flexíveis atingiu mais de 2,6 milhões de veículos em dezembro de 2006, e cresce ao ritmo de 1,5 milhão de veículos por ano, somando-se à frota de carros movidos exclusivamente a álcool, que ainda representa cerca de 900 mil veículos em operação.
É exatamente esta capacidade de consumo que faz da frota flex o grande
fato novo, e “pulmão” do sistema de abastecimento.
Para a safra 2007/08, A DATAGRO Consultoria estima inicialmente uma
moagem de 415 milhões de tons de cana no CS, e 58 milhões de tons no N/NE, para um total Brasil de 473 milhões de tons.
OFERTA DE ATR
O presidente da DATAGRO, Plínio Mário Nastari, acredita que a distribuição da oferta de ATR nesta safra deverá atender à seguinte lógica:
1. Os produtores irão fabricar açúcar e álcool suficientes para atender os mercados domésticos destes dois produtos, quaisquer
que eles sejam. Isto tem um significado especial no caso do álcool,
que terá uma demanda maior ou menor, dependendo do preço relativo relativo do álcool hidratado em relação
à gasolina;
2. Os produtores irão fabricar o álcool suficiente para atender a
sua estimativa do provável volume a ser exportado;
3. O ATR que sobrar vai ser transformado em açúcar de exportação.
EXCEDENTES NA FORMA DE AÇÚCAR, AO INVÉS DE ÁLCOOL
Esta lógica pressupõe que os produtores preferem manter excedentes na
forma de açúcar, ao invés de álcool, pelo fato do açúcar ser um produto de maior liquidez e, principalmente, permitir hedge, pois detém um mercado futuro ativo. Esta lógica encontra respaldo, inclusive, no comportamento verificado no final de 2006, quando uma vez apurado que haveria um pequeno excedente de álcool em 1O de maio de 2007, o mesmo foi rapidamente exportado.
A partir desta lógica, Nastari observa a formação de um cenário alternativo que leva em conta:
• 80% da frota flex usando álcool hidratado, tendo em vista um incremento no consumo estimulado pela queda de preço do álcool no mercado interno;
• 25% de mistura de anidro na gasolina, a partir de 1O de junho
de 2007. Neste cenário, a DATAGRO estima um aumento no consumo de álcool na safra 2007/08 em 606 milhões de litros de hidratado e 469 milhões de lilitros de anidro. Para suprir este aumento de demanda, a produção de etanol (Brasil) teria que subir para 20,54 bilhões de litros, sendo 8,6 bilhões de litros de anidro, e 11,94 bilhões de litros de hidratado, e a produção de açúcar precisaria cair 1,65
milhão de tons de açúcar. Neste cenário alternativo, o excedente
exportável passaria a 20,75 milhões de tons, ou apenas 1,47 milhão de
tons acima daquele verificado em 2006/07 – certamente um número que
causaria uma certa surpresa ao mercado, reduzindo consideravelmente a expectativa de excedente mundial de açúcar.
FROTA FLEX DEVE CUMPRIR SEU PAPEL
Para que o cenário alternativo se materialize, entretanto, é preciso que a frota flex cumpra ao seu papel no Brasil, servindo de pulmão para o sistema de abastecimento, e para o balanço oferta-demanda.
Também é preciso que as exportações de álcool ocorram em um ritmo acelerado, já que estariam atrasadas até este momento, em relação ao ano passado. E para que tudo isso ocorra, é preciso que o preço do álcool hidratado caia o suficiente para permitir um maior consumo de etanol, e viabilizar exportações.
Lutar contra esta estratégia significa aceitar que seja fabricado mais açúcar, o que reforça a tendência baixista de preços, ou então significa mudar o comportamento em relação à estocagem de álcool,
que deveria passar a ser praticada pelos produtores que não estejam dispostos a vender a sua produção com descontos, durante a safra.
Nastari enfatiza que a materialização do cenário alternativo, que pode ser encarada como uma estratégia de contenção da queda de preço, pode entretanto trazer resultados compensadores. Na medida em
que caminha na direção do saneamento do mercado como um todo (certamente o preço do açúcar e do anidro não precisam cair na mesma medida que o do hidratado), permitirá ultrapassar a safra recorde de
2007/08 sem maiores perdas. Esta estratégia daria tempo para que a renovação e expansão de canaviais sejam menores do que a ocorrida há um ano, fazendo com que o crescimento da oferta de ATR volte para
patamares mais sustentáveis no médio e longo prazos, entre 7% e 8% ao ano.
Estimativa da Safra 2007/08
Cenário Alternativo (maior produção de álcool)
PRODUÇÃO Moagem 473
Açúcar total 31,15
Álcool Total 20,538
Hidratado 11,938
Anidro 8,6
CONSUMO DOMÉSTICO
Açúcar 10,539
Álcool Total 17,07
Hidratado Combustível 9,643
Anidro Combustível 6,357
Outros Usos 1,07
EXPORTAÇÕES
Açúcar 20,75
Álcool Total 3,6
Medidas – Álcool: Bilhões de litros
Cana e Açúcar: Milhões de Toneladas
Fonte: DATAGRO – Elaboração: ProCana
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